sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Resumo: “Reflexões sobre a mudança social no Brasil” – Florestan Fernandes

    O foco desta análise é a mudança social. Nos países subdesenvolvidos almeja-se o desenvolvimento em ritmo acelerado, o progresso rápido, porém qualquer tipo de progresso ou desenvolvimento se depara com os interesses de classe, que nem sempre são a seu favor. Em um plano econômico e social a mudança atua sobre cada círculo social alterando as relações entre eles, essas mudanças geram alterações internas, obrigando os grupos a se relacionarem de maneira diferente, a fim de alcançarem os seus objetivos. Tendo que os círculos possuem concepções e interesses sociais de classe, as mudanças se adaptam à estrutura e à dinâmica do poder. Isso quer dizer que o desenvolvimento no Brasil assume caracteres subordinados ao domínio elitista.
     Para que ocorra o “arranco econômico” é preciso que ocorra uma grande mudança na herança cultural tradicional, já que “o conservador no Brasil não sabe o que deve nem o que tem de preservar e muito menos porque e para que deveria ou teria de conservar essas coisas. A oposição ao progresso nasce de uma desconfiança por assim dizer tribal diante da inovação” (1963:35). Existe a resistência por parte dos princípios patrimonialistas da herança histórico-social do país. Essa intenção de impedir a mudança, do meu ponto de vista, pode ser percebida, nos dias de hoje, através dessa greve dos funcionários públicos que não querem a reforma da Previdência, eles não colocam uma contra-proposta, apenas não querem que ela ocorra, pensando em si próprios.
    Mas a mudança acontece mesmo com a herança histórica de dominação, só que ela ocorre de acordo com os padrões da vontade das classes dominantes (desenvolvimento prescrito pela elite). É exatamente esse conflito entre tradicional e moderno que irá levar ao desenvolvimento econômico, político e social. A mudança não significa o fim imediato do processo tradicional. Pelo contrário, sempre se procura manter o patrimônio cultural e moral, mas é aí que está o problema, a elite não está pensando nos padrões morais e sim apenas na manutenção do status quo. A elite quer a manutenção de sua posição social enquanto classe no poder, e tem medo de perder seu lugar na estrutura de poder, por isso só aceitam as inovações que não alteram sua perspectiva de desenvolvimento. As inovações, nesse sentido, não devem fazer história, pois retraem as possibilidades de industrialização, ciência e tecnologia.     Para haver mudança da estrutura no Brasil não se deve pensar em revolução, mas sim em reforma, e para haver reforma real é preciso por fim em alguns padrões de desenvolvimento histórico-sociais.
    Neste contexto a população acaba ficando distante das reflexões por mudança e não conseguem se adaptar aos princípios culturais, gerando problemas econômicos, políticos e sociais. A elite dominante propaga o obscurecimento das alterações desajustando a possibilidade de articulação da massa popular como política participativa. Tenta-se alienar o povo, barrar a formação de uma consciência de classe e a formação de uma democracia. Dentro deste conflito é que o autor começa a perceber a entrada de um novo agente social que é o povo. A indústria traz o povo para a cidade e embora ainda exista a dominação, esse grupo encontra a necessidade de deixar a alienação e tomar papel social.
    Segundo Florestan o que levou as elites a controlarem as mudanças foi o fato de a sociedade brasileira ter herdado os padrões coloniais que condicionaram a formação a formação dos círculos sociais no Brasil, que se chocam quando a questão é a mudança. A princípio as coisas não se alteram, pois os valores e interesses que regem as mudanças são conservantistas. Mas houveram processos econômicos, políticos e sociais que aceleraram a desagregação do antigo regime e provocaram mudanças na composição da camada social dominante, porém manteve-se as relações de interesses e valores patriarcais. Para Florestan as modificações têm que ser graduais e manter alguns princípios tradicionais que vão se adaptar e consolidar uma nova ordem social, do contrário há prejuízo para a coletividade.
    No Brasil a democracia era controlada pelas escolhas das minorias e não pela coletividade, para por fim a isso é preciso que se consolide a ordem social democrática. Para Florestan a democracia social irá neutralizar o forte poder das elites, e as classes populares terão suas idéias levadas a sério. Assim, diminuirá o desequilíbrio que havia no processo de mudança social, valorizando as necessidades da coletividade. Essa relação que se vê entre populares e elite dominante é derivada do surgimento da idéia de sociedade global, de globalização, igualdade, segurança e coletividade. Assim, os novos círculos sociais vão se fortalecendo diante do desenvolvimento e com isso surgem conflitos que vão dar a possibilidade de uma sociedade integrada à sua maneira.
    Com a tecnologia e com a indústria houve a inovação cultural que depende dos novos grupos de organização (as classes populares). A elite se mantinha no domínio das escolhas do desenvolvimento o que a levou a rearticular-se em busca de um novo padrão de domínio já que a propriedade e o poder não asseguravam a sua força. Assim, escolheram a intelectualidade como forma de dominar os homens, porém Florestan diz que para haver avanços reais é necessário que a intelectualidade e o conhecimento se adequem aos novos grupos sociais formados pelo capitalismo os quais se opõem à estagnação cultural promovida pelo tradicionalismo.
A intelectualidade é um ponto importante para Florestan. Não se pode esquecer que o próprio cientista está inserido na sociedade e que durante muito tempo as ciências foram manipuladas pelo tradicionalismo. Assim, é necessário abandonar os conceitos pré-concebidos para a abstração da análise, mas isso é impossível, assim não há como criar uma estrutura esquemática que explique todas as funções sócio-culturais e a história. O mal da sociedade brasileira é não ter grande número de intelectuais desvinculados do tradicionalismo. Os intelectuais não fazem as mudanças, mas são peças fundamentais para que elas ocorram.
    Mesmo com a mudança atendendo a todas as camadas sociais, ainda existe o monopólio do conhecimento pelos privilegiados, o crescimento econômico abafa as classes populares e reafirma a tradicionalidade. Para que o desenvolvimento seja real é preciso que o povo se adeque a um regime em que as opções para a civilização sejam orientadas para o benefício da totalidade, ocorrendo um equilíbrio das opções predominantes no consenso da maioria.

Sociologia do Desenvolvimento – ano 2003

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