domingo, 24 de fevereiro de 2008

Vida e Obra de Auguste Comte

Vida

Auguste Comte foi um pensador original que exerceu enorme influência entre as elites intelectuais francesa e brasileira do século XIX e XX. Apresentou-se inicialmente como um profeta dos tempos científicos, mas depois de uma grave crise emocional quis ser também uma espécie de guia da religião do progresso. É dele que vem o lema "ordem e progresso", que a bandeira brasileira cultiva até hoje no seu centro. Filósofo e auto-proclamado líder religioso, deu à ciência da Sociologia esta denominação e estabeleceu a nova disciplina em uma forma sistemática.

Inspirado, num primeiro momento por Saint-Simon, seu mestre, um dos mentores do socialismo utópico (o primeiro filósofo a ver claramente a importância da organização econômica na sociedade moderna), para quem trabalhou como secretário de 1819 a 1824, Comte vislumbrou o surgimento de uma nova era, de uma Nova Ordem que superaria tanto o liberalismo-democrático como o reacionarismo: a Era Científica ou Positiva.

Devido a um desentendimento sobre autoria legítima de alguns ensaios, e também devido a um desentendimento sobre um paradigma religioso na obra de Saint-Simon, rompeu vínculos com seu mestre.

Depois de se afastar de Saint Simon, a principal preocupação de Comte tornou-se a elaboração de sua filosofia positiva. Não tendo nenhuma cadeira oficial da qual expor suas teorias, decidiu oferecer um curso particular que os interessados subscreveriam adiantado, e onde divulgaria sua Summa do conhecimento positivo. O curso começou em abril de 1826, mas só teve três aulas, devido a uma crise nervosa, comte foi internado. Já em casa, tentou suicido, em 1828. O curso das conferências foi recomeçado em 1829, e Comte ficou satisfeito outra vez por encontrar na audiência diversos nomes de grandes das ciências e das letras.

A derrubada da velha ordem aristocrática e feudal, o declínio do poder da Igreja Católica, o avanço da indústria e da técnica, o crescimento cientifico em geral, a fé otimista no Progresso, os impasses entre o Liberalismo e o Absolutismo, a Democracia e a Contra-Revolução, e uma busca de segurança e estabilidade num período pós-revolucionário, formaram o pano de fundo do comtismo.

Durante os anos 1830-1842, quando escreveu sua obra prima, Cours de philosophie positive, Comte continuou a viver miseravelmente na margem do mundo acadêmico. Sofreu críticas do mundo científico por parte de importantes figuras que o ridicularizavam pela sua pretensão de submeter ao seu sistema todas as ciências. Também, eu casamento, que nunca foi estável, fracassou, após várias separações, sua esposa o deixou definitivamente em 1842.

Apesar de todas estas adversidades, Comte começou lentamente a adquirir discípulos. E mais importante para ele foi que, além de encontrar alguns discípulos franceses notáveis tais como Emile Littré, também a sua doutrina positiva havia atravessado o Canal e recebera considerável atenção na Inglaterra. David Brewster, um físico eminente, saudou-o nas páginas do Edinburgh Review em 1838 e, o mais gratificante de tudo, John Stuart Mill transformou-se em seu admirador, citando-o em seu System of Logic (1843) como um dos principais pensadores europeus. Comte e Mill se corresponderam regularmente, e esse intercâmbio serviu a Comte não somente para refinar seus pensamentos como também para desabafar com o filósofo inglês as tribulações de sua vida conjugal e as dificuldades de sua existência material. Mill arrecadou entre admiradores britânicos de Comte uma soma considerável em dinheiro e lhe enviou como socorro para suas dificuldades financeiras.

Em 1844 Comte se apaixona por Clotilde de Voux, que era separada do marido, mas estava impedida de casar, pois este se encontrava foragido. Nesta época, Comte tinha quarenta e sete anos, acabara de concluir seu Cours de philosophie positive, e se preparava para escrever o que pretendia que seria sua principal obra, o Système de politique positive, do qual ele considerava o Cours de philosophie como apenas uma introdução. Entusiasmado com a própria paixão, Comte afirma que nada pode ser mais eficaz para o bem pensar que o bem querer. Em 1846, Clotilde adoece e morre. Comte devota toda sua vida em memória de “seu anjo”.

O Système de politique positive, que tinha começado a esboçar em 1844 e no qual completou sua formulação da sociologia, iria transformar-se em um memorial a sua amada. Cinco anos mais tarde, em 1851, ao publicar essa obra, dedicou-a a Clotilde, dizendo esperar que a humanidade, reconhecida, haveria de lembrar sempre seu nome junto ao dela.

No Système de politique positive, Comte, voltando-se contra a doutrina do mestre Saint-Simon, defendeu a primazia da emoção sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade; e proclamou repetidamente o poder curativo do calor feminino para a humanidade dominada por tempo demasiado pela aspereza do intelecto masculino. Por outro lado, distorceu a proposta de disciplina eclesiástica de Saint-Simon e criou a "Religião da Humanidade".

Quando o Système apareceu entre 1851 e 1854, Comte escandalizou e perdeu a maioria dos seguidores racionalistas que ele havia conquistado com tanta dificuldade nos últimos quinze anos. John Stuart Mill e Emile Littre não aceitaram que o amor universal fosse a solução para todas as dificuldades da época. Tão pouco aceitariam a "Religião da Humanidade" da qual Comte se proclamou o sumo sacerdote.

Em 1857, Comte, após alguns meses de enfermidade, faleceu a cinco de setembro.

Paralelismo com Saint-Simon

Comte segue Saint-Simon quando considera a necessidade de uma ciência social básica e unificadora que explicasse as organizações sociais existentes e guiasse o planejamento social para um futuro melhor. Em sua sistematização, Comte chamou esta nova ciência de "Sociologia" pela primeira vez. Porém, vai mais adiante que seu mestre quando afirma que os fenômenos sociais poderiam ser reduzidos a leis.

Como Saint-Simon, Comte queria a administração real do governo e da economia nas mãos dos homens de negócios e dos banqueiros. De Saint-Simon é originalmente a idéia de que a finalidade da análise científica nova da sociedade deve ser melhoradora, e que o resultado final de toda a inovação e sistematização na nova ciência deveria ser a orientação do planejamento social. O mais importante realmente provem de Saint-Simon, que havia enfatizado originalmente a importância crescente da ciência moderna e o potencial da aplicação de métodos científicos ao estudo e à melhoria da sociedade. Comte, porém, dá um toque pessoal, com origem em sua paixão por Clotilde, dizendo que a manutenção da moralidade privada seria competência das mulheres como esposas e mães.

Comte também pensou que era necessário implantar uma ordem espiritual nova e secularizada a fim de suplantar o sobrenaturalismo ultrapassado da teologia cristã. De Saint-Simon, Comte tomou a noção de uma estrutura hipotética para a organização social que imitaria a hierarquia e a disciplina existente na igreja católica romana. Como Saint-Simon, ele veio a adotar a idéia de que a organização da igreja católica romana, divorciada da teologia cristã, podia fornecer um modelo estrutural e simbólico para a sociedade nova, idéia que, no entanto, fora uma das causas alegadas para seu rompimento com o mestre. Comte substituiu a adoração a Deus por uma "religião da humanidade"; um sacerdócio espiritual de sociólogos seculares guiaria a sociedade e controlaria a instrução e a moralidade pública.

A Doutrina dos três estágios

A contribuição principal de Comte à filosofia do positivismo foi sua adoção do método científico como base para a organização política da sociedade industrial moderna, de modo mais rigoroso que na abordagem de Saint Simon. Em sua Lei dos três estados ou estágios do desenvolvimento intelectual, Comte teoriza que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamente primeiro por um estágio teológico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termos dos deuses e dos espíritos; depois através de um estágio metafísico transitório, em que as explanações estavam nos termos das essências, de causas finais, e de outras abstrações; e finalmente para o estágio positivo moderno. Este último estágio se distinguia por uma consciência das limitações do conhecimento humano.

A Sociocracia Antiliberal

Comte detestava o laissez-faire do liberalismo, estimulador, segundo ele, do egoísmo e da instabilidade, rejeitava também a anarquia natural dos democratas pelo clima de desordem que provocava. Idealizou para o devir uma sociocracia gerenciada por um Estado-maior de sábios e tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço das paixões humanas com as frias leis das ciências naturais.

Incompatibilizou-se também com a Democracia. Mesmo pregando a integração do proletariado na ordem sócio-política positiva, nunca simpatizou com a adoção do voto universal, adotado depois da Revolução de 1848.

Comte fora coerente ao repudiar os estadistas. Quem tentasse regredir ao passado, resgatando uma religião ou uma instituição ultrapassada, atrasava a chegada da era científica.

Condenou em seguida o principio da divisão dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) porque se opunha ao restabelecimento da nova doutrina orgânica, defendida por ele. Ao ambicionar recompor o espiritual com o temporal, o científico com o ético, era inevitável que isso conduzia a uma reconcentração dos poderes, o que implicava em submissão dos demais ao Executivo.

Parece que esta idéia de selecionar alguns dotados como agentes difusores do positivismo é que estava por detrás da organização da Sociedade Positivista de Paris, fundada por Comte em 1848.

Essa a aliança, entre o cérebro e o empreendimento, entre a teoria e a prática, entre o laboratório e a fábrica, dominará o futuro e garantirá o Progresso. Comte foi, pois, um dos mais recentes precursores da Tecnocracia.

Ordem e progresso

A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais importante na hierarquia do conhecimento porque tratava do que era Humano. Qual seria, entretanto, o campo da Sociologia e qual sua utilidade? Essa ciência se dedicaria a estudar o comportamento e o relacionamento social, analisando seus fatores estáticos e dinâmicos, conceitos que ele extraiu da Mecânica, afim de que possam ser inteligíveis e antevistos. A sociologia para Comte seria tão precisa como a Astronomia ou a Química, permitindo aos governantes futuros um alto grau de previsão nas decisões a serem tomadas ou consideradas.

Comte viu nesses fatores estáticos e dinâmicos uma oposição e uma complementaridade, a estática era o desejo intrínseco de ordem que toda sociedade civilizada deseja, a dinâmica era o progresso, o destino que ela deve cumprir rumo às etapas superiores de organização e produção. Harmonizou-os no lema: "ordem e progresso", adotado na nova bandeira da brasileira por sugestão do coronel Benjamin Constant, um dos fundadores da república em 1889.

Uma “reorganização coletiva sem Deus e sem Rei, sob a preponderância exclusiva do sentimento social, assistido pela razão positiva e da ação”. Se a transformação social deve-se à ação política consciente, o movimento positivista tem como tarefa fundamental esclarecer as mentes ilustradas para com sua obrigação de fazer emergir o mais rápido possível a Era Científica. Daí Comte reservar a cada seu seguidor a função de apóstolo, de divulgador das suas idéias, todos eles “dedicados ao sacerdócio da humanidade”. Formou-se ao seu redor, a partir de então, uma pequena seita de excêntricos discípulos que passaram a cultuá-lo como uma espécie de messias dos tempos científicos: um Cristo da era da ciência!

A Religião da Humanidade

Apesar das excentricidades de Comte, como sua intenção de estabelecer a religião da humanidade e o culto ao Grande-Ser para superar o catolicismo, baseado na sentença de que "só se destrói o que se substitui", advogou uma moderada integração feminina "e a justa incorporação na ordem moderna" do proletariado, convocando-os para a "renovação fundamental".

O Catolicismo, que ele acreditava superado, acabou inspirando-o. Criou até um delirante Calendário - o Quadro Concreto para a Reparação Humana - para se opor ao tradicional. A recaída dele no misticismo, “numa religião sem Deus”, não foi bem aceita entre seus inúmeros seguidores, fazendo com que após a sua morte acentuasse a divisão entre eles. A Sociedade Positivista, fundada por Comte em Paris, em 1848, cindiu-se entre ortodoxos e heterodoxos. Talvez essa surpreendente conversão de Comte a um culto religioso, que muitos interpretaram como resultado progressivo de loucura, tenha contribuído para o esquecimento e indiferença com que a inteligência francesa, de tradição cartesiana o tratou, tanto nos seus anos finais como depois da sua morte.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Quem faz e quem deve fazer política - na Antigüidade

Platão (427-347 a.C.)

Quem faz a Política?

Para Platão, como ele expôs detalhadamente no seu clássico sobre a política, denominado "A Republica"(Politéia), uma extraordinária exposição sobre o estado ideal, os regimes políticos existentes em qualquer época nada mais são senão expressões dos caracteres (ethos) humanos. Assim, por exemplo, o gosto pela ordem, pela hierarquia e tradição, sustenta a monarquia, enquanto o desejo de pertencer a um grupo exclusivo e a tendência de só a ele favorecer gera a oligarquia. Por outro lado, a inclinação egoísta que alguns têm à enriquecer e à amalhar tesouros é a base do regime timocrático, enquanto o pulsar do sentimento de fraternidade, igualdade e solidariedade, existente entre os homens, inspira-lhes o viver numa democracia. Finalmente, o temperamento colérico, raivoso e descontrolado de certas personalidades fortes, dá sustento à tirania. Logo, por detrás de tudo, de quem faz a política, nas suas mais variadas formas (monárquica, oligárquica, timocrática, democrática ou tirânica) é o Sentimento.

A relação entre os sentimentos e os regimes políticos

Sentimento

Regime Político
Gosto pela ordem, pela hierarquia e tradiçãoMonarquia
Tendência de pertencer a um grupo e a ele favorecerOligarquia
Egoísmo, exclusivismo, gosto pela riquezaTimocracia
Fraternidade, igualdade, solidariedadeDemocracia
Cólera, raiva, fúriaTirania

Quem deve fazer a Política?

Exatamente por isso, pelo Sentimento (instável, volátil e inconstante) ser a base dos regimes políticos, é o que os levava a serem imperfeitos, geradores de turbulência e de guerras civis sem fim. É necessário pois opor-se-lhes com um outro tipo regime, no qual o calor dos Sentimentos deveria ceder aos traçados regulares da Inteligência. Um regime que procure a estabilidade perene, constituído ou modelado exclusivamente pela Razão (logos). Este novo sistema, por ele idealizado, seria sustentado, segundo Platão, por dois pilares: a Educação (paidéia) e a Justiça (dikê).

Educação (paidéia)

Por educação, ou melhor, por formação, entende-se a capacidade não só de encontrar na alma de cada cidadão quais suas reais capacidades, suas qualificações, como despertá-las, aperfeiçoa-las e conduzi-las ao bom caminho. Segundo Platão, todo homem nasce com uma alma (psique) divida em três partes: o apetite, a coragem e a razão, que, por sua vez, materializam-se nas virtudes da temperança, valor e sabedoria. Cabe ao educador (arconte-pedagogo) fazer desenvolver uma delas (que se sobrepões às demais) e orientar o indivíduo a ocupar o seu devido lugar na sociedade.

A justiça (dikê)

Por Justiça (dikê), Platão entendia ser a obrigação da sociedade em abrigar e encontrar uma função, a mais adequada possível, de acordo com as inclinações naturais de cada indivíduo, aperfeiçoadas pela educação. Os que têm coragem (timós), por exemplo, devem ser utilizados como os guardiães ou guerreiros da sociedade, enquanto aqueles que são dominados predominantemente pelos seus apetites, devem ser os trabalhadores (demiorgói). Por último, os dotados de razão e de inteligência devem assumir o governo da sociedade como arcontes. A idéia de Justiça para Platão, e para a maioria dos pensadores gregos, não estava comprometida necessariamente com o principio da equanimidade, isto é, da igualdade de todos perante a lei. Uma sociedade justa, para eles, era apenas aquela proporcionava o lugar exato à cada um, de acordo com seus merecimentos. Afinal, esta idéia de justiça estava condicionada pelo fato deles viverem num mundo onde a escravidão fazia parte do dia a dia.

O Rei-filósofo (Basileus philósophos)

O governante máximo desta sociedade perfeita, assentada na Razão, imaginada por Platão no "A República" (Politéia) era o rei-filósofo porque, segundo ele, apenas eles, por serem os que mais próximos estão das idéias do Bem, do Belo e do Justo, têm condições de agirem como os "pastores da sociedade". Pois, lembrava ele, o governo da Razão deve sempre predominar sobre o instável Reino dos Sentimentos.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Quem faz a Política?

No detalhado mas inacabado estudo que Aristóteles fez sobre mais de 150 constituições existentes na sua época, concluiu que as sociedades se organizam em regimes políticos que podem ser classificados de acordo com o número daqueles que exercem o mando na política. Quando, por exemplo, o poder encontra-se nas mãos de um só homem, o rei, que governa segundo a tradição e os costumes, teremos um regime monárquico. Se o regime for dos melhores dos seus cidadãos (aristós), temos uma aristocracia e, se o regime é de todos (demos), trata-se de uma Politéia (de uma república). Todos eles, entretanto, tendem inevitavelmente à perversão, à deturpação, provocando o surgimento de formas políticas bastardas, tais como a tirania, a oligarquia e a democracia. A tirania, corrupção da monarquia, é o governo de um só homem que governa discricionariamente, segundo seu humor e capricho. A oligarquia, deturpação da aristocracia, é o governo de um grupo que rege as coisas públicas atendendo apenas ao seu exclusivo interesse, e a democracia, decadência da Politéia, é o poder discricionário da multidão, que move uma perseguição aos ricos e a todos os que se lhe opõem.

Classificação dos regimes políticos segundo Aristóteles

Número dos que governam

Denominação do regime

Sua degradação
Um homem sóMonarquiaTirania
Um grupo seleto de homensAristocraciaOligarquia
Todos os homensPolitéiaDemocracia

Quem deve fazer a Política?

Assegurada a infra-estrutura da Polis (a cidade-estado grega) sendo ela auto-suficiente em alimentos, ter artífices capazes de fabricar instrumentos e armas para se defender, além de um tesouro próprio para assegurar suas necessidade internas e para outras emergências, ela deve ter também "meios para decidir as questões que envolvam interesses e direitos recíprocos dos cidadãos", isto é, ter instituições políticas.

O cidadão (Politéen)

Quem deve ser o cidadão (Politéen) para Aristóteles? Não todos, mas somente os homens absolutamente justos. Eles, esses poucos eleitos, não devem viver do trabalho trivial de artífices, muito menos do negócio (porque são atividades ignóbeis e incompatíveis com as qualidades morais de um cidadão virtuoso). Tampouco podem eles serem agricultores, pois esses vivem lavrando a terra sem terem tempo para o ócio necessário ao seu aprimoramento. Afinal, "o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidade morais e à prática das atividades políticas" ["Política", livro 8, cap. VIII, 1329 a].

A cidadania seletiva de Aristóteles

Desta forma, Aristóteles delimita a cidadania aos homens aquinhoados e aconselha a criação de instituições flexíveis que sejam capazes de articular os interesses da busca da felicidade por parte desses indivíduos abonados, com o bem-estar geral da coletividade. O poder deve ser exercido alternadamente entre as classes militares e as deliberativas (ou dos conselheiros) que, ao envelhecerem no serviço da comunidade, devem integrar as classes sacerdotais. Se Platão defendia um governo de filósofos, Aristóteles alargou um pouco mais a base da participação na direção política da cidade ideal, acolhendo no seu modelo um número bem mais amplo de gente. Abriu-o às pessoas cultivadas da sociedade. Nenhum dos dois, como se vê, foi favorável à democracia, isto é, à extensão da cidadania à totalidade dos homens livres da sociedade daquela época.

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Quem faz e quem deve fazer política - na Idade Média

Desde a queda do Império Romano do Ocidente em 476 durante as invasões bárbaras do século V, a Igreja Católica viu seu poder crescer no vácuo deixado pela autoridade romana. No entanto, ela, a Igreja, força espiritual, moral, necessitava de proteção, do braço secular. Este lhe foi oferecido pelos reis e chefes bárbaros que se converteram ao cristianismo. Um deles, Carlos Magno (768-814), chegou a tentar restabelecer o poder Imperial no ano de 800, quando foi coroado em Roma, Imperador do Ocidente.

O Sacro Império Romano-Germano

Seus sucessores continuaram utilizando-se do mesmo título até que Otão, o Grande, fundou, em 962, o Sacro Império Romano-Germânico, tutelando o Papado. Por isso ele indicava ao seu gosto os integrantes do alto clero e influenciava decisivamente na escolha do papa. A crença era de que havia uma nítida separação de poderes, cabendo ao Imperador o poder temporal, enquanto ao Papa, cabia o poder espiritual. Interessa observar que nesta época dos princípios da Idade Média, desaparecem completamente da teoria política a concepção da cidadania como era concebida pelos gregos e romanos. A política nos tempos medievais está circunscrita aos nobres, ao rei e aos sacerdotes, era uma arena exclusiva dos grandes.

1. Os Teocratas

Quem faz a política?

Esta dependência do Poder Sacerdotal ao Poder Imperial, caiu no desagrado dos teólogos defensores da teocracia, particularmente a partir do século XI, quando a Igreja Católica lançou-se numa luta por reformas radicais, visando sua autonomia. Para eles, o Imperador, segundo a prática otoniana, de certa forma, usurpava a autoridade Papal, ao escolher os bispos e outros altos funcionários eclesiásticos. Cometiam, ao fazer esse intrometimento nas coisas da Igreja, o delito da simonia, o tráfico com as coisas sagradas da religião.

Quem deve fazer a Política?

Por conseqüência daquela intromissão dos imperadores nas coisas da Igreja, havia, segundo os teocratas, uma usurpação da liderança política da Cristandade. Como exclusivo representante que Cristo na Terra, todos, especialmente o Imperador, deviam obediência absoluta ao Papa. Esta foi a posição que os teocratas ou os hierocratas (os defensores do poder sacerdotal), assumiram no tempo do Papa Gregório VII( 1073-1085). Esta posição deles desencadeou a célebre "Questão das Investiduras", iniciada em 1073, quando o Papa e o Imperador travaram uma longa luta ideológica, e por vezes, militar, para ver quem deveria liderar a Cristandade.

O Ditado Papal

Para os teocratas, o poder temporal deveria estar submetido ao espiritual. Para tanto, fizeram o papa anunciar o chamado Ditado Papal (Dictatus Pape), proclamando-se como o chefe exclusivo da Cristandade, sendo-lhe permitido inclusive "depor os imperadores" [artigo XII], sendo o único homem "a quem todos os príncipes beijam os pés" [artigo IX].

2. Os Estatocratas

Quem faz a Política?

A intromissão do Papado nos assuntos seculares, por sua vez, passou a ser inaceitável para os defensores do poder secular. Estes teóricos, os estatocratas, argumentaram que o poder determinado por Jesus Cristo à Igreja era exclusivamente um poder espiritual. Citavam na defesa do seu ponto de vista, o fato de que Jesus Cristo, frente a Pilatos, ter dito que o seu reino não era o reino deste mundo, mas sim de um outro mundo, o do Reino dos Céus. Consequentemente o Papa devia restringir-se exclusivamente às questões espirituais, aos dramas morais e éticos dos cristãos.

Quem deve fazer a Política?

Marcilio de Pádua, reitor da Universidade de Paris, e um dos principais teóricos do poder secular, lançou-se numa radical crítica à ambição da Igreja Cristã em querer ser também um poder temporal. Na sua obra "Defensor da paz" (Defensor pacis), de 1324, apresentou a mais bem elaborada doutrina do poder estatal, que, segundo alguns, foi a fonte inspiradora de todas as concepções do estado secular que surgiram, bem mais tarde, nos tempos modernos.

O Legislador Humano

Para Marcilio de Pádua, a fonte das instituições era o que ele denominou de o Legislador Humano, isto é, o corpo dos cidadãos livres que compõem um reino. Este legislador humano é representado pelas figuras mais expressivas da sociedade, que, por sua volta, delegam a direção do governo a um príncipe. Este era um magistrado único, autoridade secular, que concentra em suas mãos a capacidade coercitiva e o exercício da autoridade. Não aceita a teoria da dualidade de poderes (um espiritual, e outro temporal), pois a vê nesta divisão um convite à dispersão, ao conflito de soberania, à guerra civil. O poder é um só e deve estar enfeixado nas mão do príncipe secular.

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Quem faz e quem deve fazer política - Ideologias Contemporâneas (parte 1)

O século XX foi dominado, em todo o seu transcorrer, pelas ideologias políticas. Aqueles que imaginavam que o vazio deixado pelo declínio da religião faria por diminuir ou desaparecer o fervor dos homens e das sociedades em torno das crenças viram-se surpreendidos pelos acontecimentos. Houve apenas uma troca de símbolos. Não se lutou mais tanto pela Igreja ou pelo rei, como se fizera nas épocas anteriores, mas por uma causa, uma grande idéia nacional, patriótica ou internacionalista, capaz de mobilizar milhões de homens e mulheres, nações inteiras, levando o mundo a travar duas guerras mundiais e várias revoluções sociais de enorme repercussão. A era das massas não iria mais refluir.

Abaixo, uma breve classificação das ideologias que dominaram a imaginação e provocaram as paixões dos homens no século que passou, assinalando suas diferenças e determinando qual a preocupação delas no que tange a quem faz a política e quem a deveria fazer. Junto, identificados a elas, estão alguns nomes de ativistas, líderes e teóricos cujas obras e liderança tiveram papel significativo na difusão do pensamento que defendiam.

O Socialismo

a) A Social-Democracia (1875)

Principais teóricos: E. Bernstein (1850-1932): As Premissas do socialismo e as tarefas da democracia social (de 1899), e K. Kautsky (1854-1938), A Interpretação materialista da história (1927).

Quem faz a política?

Para os sociais-democratas, fossem eles de filiação marxista ou não, quem fazia e dominava a política eram as classes dominantes, formadas pelos grandes cartéis econômicos associados aos bancos e aos donos dos latifundiários que controlam a vida parlamentar e as principais instâncias do poder. A classe burguesa enfim.

Quem deve fazer a política?

As suas opostas: as classes trabalhadoras, até então alijadas dos direitos sociais e cívicos. Emergidos da revolução industrial, os operários devem organizar-se em partidos políticos e aliar-se aos sindicatos para assim participar do processo eleitoral e estender ao máximo a democracia. O objetivo da social-democracia é a tomada do poder pela classe trabalhadora organizada para transformar a sociedade e o Estado a seu favor. Através do processo eleitoral parlamentar e pela evolução geral da sociedade esperam chegar ao socialismo. Apesar de muitos dos seus militantes pregarem a necessidade da transformação social por meio de um radical revolução social e política, a social-democracia gradativamente abandonou a via revolucionária e aderiu ao processo da democracia representativa.

b) Os anarquistas (1872)

Principais pensadores e ativistas: Max Stirner: O único e sua propriedade?, (1845) e M. Bakunin (1814-1876): Deus e o Estado, (1871).

Quem faz a Política?

As classes dominantes, que, mancomunados, utilizam-se do poder do Estado para oprimir os indivíduos.

Quem deve fazer a Política?

O revolucionário solitário, ou o pequeno grupo da fraternidade anarquista, que em seu gesto heróico ataca sem cessar os símbolos mais evidentes da opressão de classe: os integrantes do Estado opressor. Ele, o anarquista, utiliza-se da violência para desmantelar tudo aquilo que representa a autoridade secular ou religiosa, seja a do rei ou do papa, ao mesmo tempo em que oferece, através de atentados espetaculares, um exemplo corajoso para que os humildes, camponeses e operários, se insurjam contra a ordem vigente que lhes é madrasta. Enquanto existir o Estado não há homem livre nem liberdade. Desta forma, o dever do revolucionário é destruir inteiramente as bases do Estado. O melhor governo seria aquele formado por um infindável número de células anarquistas que ascendentemente formariam uma federação mundial.

c) Comunistas

Principais pensadores e ativistas: Lenin (1870-1924): Que fazer? (1902) e J. Stalin (1879-1953): Problemas do Leninismo (1926).

Quem faz a Política?

As forças do imperialismo. A poderosa coligação de empreendimentos econômicos e financeiros controlados pela burguesia internacional que se espalha, tanto pelo mundo industrial europeu como sobre as nações colonizadas. Posteriormente, depois de 1918, o imperialismo será revigorado pelos nazi-fascistas que ascenderam em vários países europeus numa luta de vida e morte contra o comunismo.

Quem deve fazer a Política?

A vanguarda revolucionária, composta por revolucionários profissionais organizados em torno de um partido clandestino que representa os setores mais combativos e avançados do operariado fabril. Ela tem como missão orientar a sua luta e dirigi-la para provocar a eclosão da revolução social e futura implantação do socialismo. A tomada do poder será seguida pela imediata adoção da ditadura do proletariado e a criação de uma infra-estrutura para a montagem da sociedade comunista, obra do aparelho político-partidário sob controle irrestrito do seu secretário-geral.

O Fascismo

a) O Fascismo

Principais atividades e teórico: Benito Mussolini (1883-1945) e Giovani Gentile (1875-1944): A Doutrina fascista.

Quem faz a Política?

As classes oligárquicas liberais degeneradas, debilitadas pelo cristianismo ou pela franco-maçonaria, perdendo a capacidade de adotar as medidas excepcionais e necessárias para frear e combater a subversão comunista. Exatamente por sua fraqueza e perda da virilidade, elas encontram-se sem condições de pôr fim à desordem social e econômica que o capitalismo liberal ciclicamente provoca.

Quem deve fazer a Política?

O Duce, o grande líder das massas, chefe incontestável do um movimento camisa negra que visa a implantação do Estado Total, acabando com a anarquia comunista e com instabilidade do liberalismo capitalista. Responsável pelo erguimento da nacionalidade, ele deverá governar através de mecanismos excepcionais, confiando no estreito vínculo do chefe com o povo e no seu carisma pessoal. A sociedade por sua vez deve organizar-se em corporações e superar os conflitos de classe em nome da segurança nacional ameaçada pela subversão comunista e pela atomização individualista do liberalismo.

b) O Nazismo

Principais ativistas e teóricos: Adolf Hitler (1889-1945): Minha Luta (1925-1927) e Alfred Rosemberg (1893-1946): O Mito do Século XX (1930).

Quem fez a Política?

O judaísmo internacional que visa a dissolução dos elementos constitutivos da raça e da nacionalidade, provocando guerras e fomentando crises. Tanto o capitalismo como o bolchevismo são estratagemas e maquinações econômico-ideológicos utilizados pelos judeus para executar seu projeto de dominação mundial.

Quem deve fazer a Política?

O Führer, líder incontestável do movimento racial-revolucionário, que, com poderes extraordinários, baseado no Führerprinzip, assim que chegar ao poder desencadeará o processo de expurgo dos judeus e dos comunistas, bem como de uma política de limitação ou total abolição das liberdades democráticas. Estas medidas internas serão posteriormente apoiadas por uma campanha externa de expansão, uma nova guerra de colonização, visando estabelecer no Leste da Europa o Lebensraum, um espaço vital, morada futura da raça superior - Herrenvolk - que governará os demais povos inferiores - Untermench - baseada nas suas qualidades e virtudes inquestionáveis.

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Quem faz e quem deve fazer política - Ideologias Contemporâneas (parte 2)

O Populismo

Principais representantes: G. Vargas A Política trabalhista no Brasil (1950), e D. Perón O Movimento Justicialista (1946).

Quem faz a Política?

As oligarquias colonizadas, associadas aos interesses econômicos e estratégicos das potências estrangeiras, especialmente americanas e européias, que praticam uma política antinacional e de discriminação popular.

Quem deve fazer a Política?

O líder, o caudilho, condutor das massas, que as mobiliza e as organiza corporativamente ou sindicalmente em favor de uma política de soberania nacional e de conquista social. Aliado à burguesia nacional e aos trabalhadores, o líder populista visa a autonomia política e econômica do país.

O Liberalismo

Principais pensadores: Benjamin Constant (1767-1830) Princípios da política aplicável a todos os governos representativos (1820) e John Stuat Mill (1806-1873) Sobre a Liberdade (1859).

Quem faz a Política?

Os poderes excessivos do Estado, sujeito às influências maléficas do Executivo e por vezes inclinado aos reclamos da demagogia popular.

Quem deve fazer a Política?

O cidadão, geralmente um homem qualificado, apurado pelo mecanismo eleitoral censitário (de acordo com a renda), dotado de propriedade e autonomia, que participa da vida política em eleições periódicas e se possível organizado partidariamente. A autoridade do Estado deve ser limitada por um eficaz sistema de divisão de poderes que impeça o despotismo ou os exageros do executivo, e que o imunize perante as exageradas demandas populares. O Estado deve apenas garantir o gozo da propriedade e a liberdade dos indivíduos "que é o gozo pacífico da independência privada".

A Democracia Moderna

Disso tudo conclui-se que a democracia moderna é uma confluência da ideologia liberal, na medida em que mantém o sistema representativo, a divisão dos poderes e as demais liberdades, que convivem com as propostas do programa socialista, isto é, a plena igualdade de todos os cidadãos, a garantia dos direitos sociais e trabalhistas e a equivalência dos sexos.

Observa-se que na democracia moderna desaparecem os anteriores critérios que discriminavam os cidadãos. Os critérios de impedimentos de ordem cultural (pois hoje votam alfabetizados e os analfabetos), sexual (votam homens e mulheres), religioso (ninguém perde seus direitos políticos por motivo religioso), censitário (não se divide mais os indivíduos em cidadãos ativos, com renda, e passivos, sem rendimento), racial (por serem de outra cor que a maioria), ou ideológico (por defenderem uma doutrina contrária aquela que domina o país) foram todos eles derrogados ou abolidos, mantendo-se apenas uma exigência de limite etário para que o indivíduo se torne cidadão.

Além dessa plena integração de todos os cidadãos, no moderno Estado de Direito estão assegurados os direitos de associação, de greve, de imprensa, de liberdade e de livre expressão das idéias.

A democracia moderna é também a síntese final entre quem faz e quem deve fazer a política. Nela atenuam-se as antinomias que marcaram o pensamento político desde os tempos de Platão até o recente declínio das ideologias modernas. Quem faz, pois, a política numa democracia moderna? O cidadão! Quem deveria fazê-la? Igualmente o cidadão.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Antropologia

Considerada de maneira ampla como o estudo científico do homem, definição esta que destaca inúmeros problemas que ilustram tanto a diversidade da antropologia hoje como seus aspectos unificadores. Um primeiro problema é que, se a antropologia como disciplina originou-se na revolução darwiniana, do século XIX, e teve como interesse a teoria evolucionista, seu desenvolvimento posterior foi uma reação à essas idéias evolucionistas e “progressionistas” sobre a sociedade e comportamentos humanos. A divisão da antropologia em dois ramos, social e biológico, evidencia essa rejeição. Outro problema encontra-se no surgimento da crítica feminista tornando mais cuidadosos o uso da palavra “homem” para designar a espécie humana como um todo. Essa fragmentação em elementos sociais e biológicos ainda é questionável, devido a coerência do próprio nome antropologia.

A antropologia se caracteriza por uma ênfase nas abordagens comparativas, nas variações mais do que nas normas do comportamento das sociedades, e numa rejeição das sociedades ou populações ocidentais como modelo para a humanidade. Os antropólogos sociais se concentravam nas sociedades não-ocidentais. O que sempre se considerou é que a experiência social humana é bem mais encarada como uma série de variações, cada qual com sua própria lógica cultural, e em particular que a sociedade ocidental não representa um padrão comportamental pelo qual essas outras culturas devem ser avaliadas.

Os antropólogos biológicos utilizam princípios e métodos biológicos para fornecer outro quadro comparativo. Este pode ser explicitamente evolucionista, comparando os seres humanos com outros primatas, ou pode ser um exame da extensão e natureza da variação biológica do homem hoje.

Na base de todos os ramos da antropologia existe a preocupação com o mapeamento da criação humana.

Sociedades primitivas: a descoberta pelos europeus da enorme variação nas sociedades humanas ocorreu basicamente no período de 1500 a 1900, acarretando necessidade de compreender como e porque essa diversidade ocorreu. A adoção de perspectivas evolucionistas durante o século XIX forneceu a base coerente para tal perspectiva. A evolução foi encarada como uma progressiva escala de mudanças natural, como estágios numa escala de progresso, que vai do primitivo ao avançado (tendo no patamar mais elevado a sociedade européia, ou industrial).

Apesar dessa idéia evolucionista ser a base para a antropologia moderna, o século XX foi marcado pela rejeição deste ponto de vista. Era necessário explicar os grandes impérios, e partiu-se para a interação entre observação e sociedade, desenvolvendo-se a observação participante, levando a rejeição das idéias de progresso das sociedades humanas. A experiência nas sociedades não-européias levou a percepção de que elas não eram tão simples e não podiam ser encaradas como estágios primitivos de sociedade. Ao substituir os conceitos evolucionistas por conceitos funcionais, ficou claro que as sociedades não-européias não eram tentativas primitivas de organização econômica e estrutura social, mas funcionavam bem como sistemas integrados em formações ambientais particulares.

Assim, abandona-se a idéia de hierarquias evolucionistas das sociedades humanas, dando-se maior importância às tradições culturais independentes e às estratégias sociais alternativas.

Cultura: conceito crucial da antropologia. Em um nível, refere-se às características de comportamentos que são exclusivas dos seres humanos em relação à outras espécies. Também traz consigo a noção de comportamento ensinado em vez de instintivo. O desenvolvimento da etnologia deixou claro que essa dicotomia aprendizado/instinto no comportamento animal não é válida e que outras espécies partilham de características que antes se achava particularmente humanas. Um outro nível, é o da capacidade humana de gerar comportamento. Em outro nível, encontra-se o ponto de vista de que tal comportamento está profundamente enraizados nas relações sociais e em outras características da sociedade. E finalmente o resultado de todos esses processos é o fenômeno das culturas humanas.

A cultura não é só um acumulo de tradições sociais. Ela está tão profundamente entrelaçada com todo o sistema cognitivo que a visão de mundo, em cada indivíduo, é construída pela experiência cultural e a ela está sujeita.

Relativismo cultural: desenvolveu-se na antropologia social como um meio de enfatizar tanto a dificuldade de se fazer comparações entre culturas quanto a ausência de quaisquer critérios independentes para se formar juízos sobre os méritos relativos de diferentes tradições sociais. Em seu ponto mais extremo, o relativismo cultural adota o ponto de vista de que uma cultura só pode ser considerada dentro do contexto de suas próprias tradições e lógicas culturais.

A unidade da espécie humana: as abordagens biológicas da antropologia abriram caminho para a visão, predominante neste século, de que a humanidade é unificada, unida por uma herança biológica, imensamente maior do que qualquer uma das diferenças. A aceitação da unidade da espécie humana é hoje um consenso fundamental, formando a base de muitas idéias que vão além do estritamente biológico.

A diversidade humana: do mesmo modo que os antropólogos sociais se concentraram na diversidade das formas culturais humanas, os antropólogos biológicos também se voltaram para a diversidade biológica. A diversidade de aparência dos seres humanos, particularmente em aspectos como cor de pele e a forma do rosto, deram créditos ao ponto de vista de que as populações humanas podiam ser divididas em unidades distintas, representando exemplares geográficos isolados ou estágios de evolução, e se tornaram a base da análise da variação humana em termos de raça.

Durante a maior parte do século XIX e início do século XX, raça foi o conceito central no estudo da diversidade biológica humana. As raças forneceram uma categorização do ser humano tanto na horizontal (ou seja, geográfica) quanto vertical (ou seja, através do tempo). O conceito de raça foi usado também como explicação para as diferenças em termos de padrões de desenvolvimento. Na antropologia recente, raça foi completamente rejeitada como noção biológica e analítica de alguma utilidade. Trabalhos recentes de antropologia biológica mostram que raça não é um conceito biológico útil.

A evolução humana: a contribuição da antropologia às idéias deste século retorna a sua preocupação com a evolução humana, mas com outra ênfase. A evolução não mostra uma escalada de progresso, mas uma fonte de diversidade; ao invés de fazer com que os humanos remontem cada vez mais no tempo, ela enfatiza cada vez quanto a espécie humana é jovem e assim, a unidade das populações humanas.

A antropologia moderna: entre os antropólogos sociais, houve maior concentração nos laços entre processos culturais e processos econômicos, políticos e sociológicos, conduzindo a uma crescente ênfase nos aspectos culturais da cognição. Além disso, as mudanças marcantes nas sociedades tradicionais estudadas pelos antropólogos levaram-nos a se envolver de forma cada vez mais profunda com os problemas di desenvolvimento e da sobrevivência, dessas mesmas sociedades. Da mesma forma, os antropólogos biológicos vêm trabalhando cada vez mais com os problemas de doença e nutrição do Terceiro Mundo, e fornecendo especialmente uma compreensão maior dos aspectos populacionais que revestem os problemas ecológicos com os quais se defrontam vastos setores da população humana.

Dicionário do Pensamento Social do século XX – “Antropologia” – pag. 22 - 27

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ciência Política

Esta disciplina dedica-se ao estudo de fenômenos políticos. Esses fenômenos são freqüentemente encarados como caracterizando exclusivamente o governo nacional, junto com as autoridades locais e regionais, é aí que a política se torna mais visível. Mas na realidade a atividade política é geral. Ela ocorre em todas as organizações: empresas, sindicatos, igrejas ou organizações sociais. Se o caráter geral da atividade política é hoje amplamente reconhecido, essa atividade ainda é analisada principalmente em relação a organismos públicos.

Relação entre ciência política e teoria política normativa: se a ciência política é o estudo dos fenômenos políticos, a teoria política normativa diz respeito às características dos valores políticos.

A ciência política tal como é conhecida hoje, só se desenvolveu recentemente, devido a isso, a profissão de cientista político ainda tem poucos praticantes.

Apesar de autores brilhantes durante a Idade Média, Renascimento e período moderno como, Maquiavel, Bodin, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau e Tocqueville, que exerceram grande influência na ciência política, esses autores não desenvolveram um ramo acadêmico de aprendizado que pudesse ser encarado como ciência. Assim, a ciência política só surgiu como disciplina depois da primeira metade do século XIX, e mesmo perto do final do século XX, ainda não tinha adquirido um status totalmente independente em diversas partes do mundo.

Essa falta de autonomia disciplinar afetou o desenvolvimento da ciência política; também exerceu efeito sobre a natureza e a vitalidade da teoria política, especialmente sobre seus aspectos não-normativos. Como em todas as disciplinas, a ciência política precisa desenvolver uma teoria, caso deseje entender os fenômenos que observa. Porém, alguns acreditam ser impossível uma teoria autenticamente científica da política, devido à natureza do comportamento humano, tanto individualmente quanto em grupo. Os motivos para tal ponto de vista vão desde a visão de que as ações humanas são basicamente imprevisíveis até a idéia de que as situações políticas são muito complexas para que uma análise científica seja capaz de descobrir, quanto mais medir, todas as variáveis envolvidas no processo. Também já se afirmou que as idiossincrasias dos observadores são inevitáveis e o que passa por “observação” é apenas um reflexo dessas mesmas idiossincrasias.

Existe uma necessidade de compreender melhor a política e descobrir regularidades, mesmo que acabem se tornando “leis” verdadeiramente científicas.

O debate sobre a viabilidade da ciência política está em continuo processo, sem diminuição de ênfase, isso porque a vida política, e em particular a vida política no plano dos responsáveis pelas tomadas de decisão nacionais, é formada marcantemente pela cultura política dos países e das regiões. As tradições políticas e sociais são os mecanismos pelos quais as especificidades históricas desempenham seu papel.

Generalizações em ampla escala podem levar a armadilhas: muito provavelmente deixarão inexplicada grande parte da realidade concreta. É preciso que às generalizações se combine o reconhecimento da importância do contexto particular e dos que desempenham papéis particulares. Assim, esse é o maior desafio dos cientistas políticos: mais do que cientistas sociais, eles precisam combinar o geral com o particular.

Semelhante situação naturalmente afeta a metodologia da ciência política: os cientistas políticos têm de usar grande variedade de instrumentos e técnicas se quiserem obter alguma compreensão da realidade. Não existe nenhuma metodologia isolada, nenhuma metodologia comum.

A ciência política, assim, apresenta grande diversidade. Não é um ramo do saber verdadeiramente unido. Pode-se encontrar cinco aspectos de estudos empíricos que se tornaram campos de investigação cada vez mais distintos:

  1. O estudo do governo é o ramo mais antigo do estudo empírico da política. Em sua forma moderna esta ligado ao direito constitucional (principalmente no continente europeu). Estuda as instituições e os procedimentos que caracterizam os sistemas políticos através do mundo; e também estuda os padrões comportamentais, investigando até que ponto e de que modo as instituições e procedimentos influenciam o comportamento. Muitos estudos se concentram em determinado país ou região ou instituição; porém, hoje existem também, e cada vez mais, estudos transnacionais, que envolve os governos de uma região, os governos de diferentes regiões. Esse ramo chamado governo comparativo é um elemento central no estudo da política.
  2. A administração pública analisa a estrutura e as características dos organismos públicos, bem como as condições de emprego dos que dirigem organismos. De essencialmente descritiva, ela passou a analisar os tipos de relacionamento que surgem dentro e entre os organismos públicos. A administração pública esforça-se em descobrir as condições amplas em que são tomadas as decisões públicas. Tenta determinar quais dessas condições são as mais eficazes e mais eficientes na obtenção de objetivos particulares.
  3. O estudo das relações internacionais tem mudado de forma marcante, deixando de ser um ramo de totalmente distinto da história e tornando-se um setor da ciência política. Isso porque seu interesse maior é pela política entre nações e porque a diferença entre assuntos internos de estado e relações entre estados se tornou menos pronunciada.
  4. O estudo do comportamento político é, em muitos sentidos, um produto da erupção da política de massas da sociedade moderna, em particular no Ocidente. Há um grande interesse em saber sobre quais bases as pessoas fazem suas escolhas políticas, principalmente em épocas de eleições.
  5. 5. O estudo da análise de políticas públicas é o mais recente subsetor da ciência política. Tem origem na administração pública, mas difere por não ser um modelo totalmente diverso como aquele. A análise de políticas públicas diz respeito ao modo pelo qual o comportamento dos agentes políticos pode afetar decisões, enquanto a administração pública diz respeito basicamente às estruturas e aos efeitos dessas estruturas.

Com essa expansão da ciência política ao longo do século XX, sua influência vem naturalmente crescido de forma apreciável. Ela ainda tem grandes dificuldades na previsão de resultados. Ao mesmo tempo, a necessidade de se dedicar a um estudo sistemático das tendências políticas e, assim compreender os acontecimentos políticos e cada vez mais reconhecido tanto pelo público em geral quanto pelos próprios responsáveis pelas tomadas de decisão.

Assim, a ciência política preenche uma função essencial, que é a de ajudar os cidadãos a adquirir melhor compreensão dos fenômenos políticos e, assim, exercerem maior influência sobre sua comunidade e sobre a sociedade como um todo.

Dicionário do Pensamento Social do século XX – “Ciência Política” – pag. 80 - 85

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sociologia

A sociologia teve suas origens no século XVIII, nas filosofias da história, nas primeiras pesquisas sociais e nas idéias gerais do Iluminismo. Em suas fases iniciais e principalmente nos escritos de Auguste Comte, que foi quem deu nome à nova ciência, a sociologia tinha orientação geralmente evolucionista e positivista. Essas características persistiram durante o século XIX, nas obras de Herbert Spencer e Karl Marx.

No final do século a sociologia assumiu uma forma diferente e lentamente se estabeleceu como disciplina acadêmica, através das obras de dois importantes pensadores, Emile Durkheim e Max Weber, que, junto de Marx, podem ser considerados os fundadores da disciplina em sua concepção moderna. Embora profundamente diferentes em suas idéias e abordagens, esses pensadores tinham uma nova concepção da sociedade como objeto de estudo a ser distinguido do estado e do político e dispuseram-se a definir e demonstrar os princípios e métodos dessa nova “ciência da sociedade”. Também concentraram suas atenções nos problemas específicos da estrutura e do desenvolvimento do moderno capitalismo ocidental, respondendo às profundas mudanças na vida social que ele causou ao crescimento da classe operária e à propagação das idéias socialistas.

A sociologia tinha também acentuadas características nacionais e regionais; estava confinada a Europa Ocidental e América do Norte, regiões onde o capitalismo ocidental se desenvolveu com maior rapidez. Mesmo dentro dessas regiões, as características eram diferentes em cada país.

Somente depois da Segunda Guerra Mundial, sobretudo na década de 60, é que a sociologia expandiu, tornando-se uma importante ciência social acadêmica, em escala internacional. Essa reorientação e expansão da disciplina foram acompanhadas de especialização e proliferação de novas áreas de pesquisa, muitas das quais colocaram a sociologia em relação mais estreita com outras ciências sociais, especialmente a ciência econômica, a antropologia e a ciência política. Ao mesmo tempo a multiplicidade de paradigmas também tendia à aumentar, enfatizando a divisão da disciplina em escolas concorrentes de pensamento.

A sociologia traz controvérsias que resistem a tempos; estão envolvidas três principais questões. A primeira diz respeito à importância da estrutura social na vida social e das ações conscientes, intencionais, de indivíduos ou grupo de indivíduos: se, e em que medida, a sociedade deve ser concebida como o produto dessas ações ou se, as intenções e possibilidades de ação de indivíduos e grupos devem ser vistas como produto da sociedade. A segunda questão se refere à relação entre estrutura social e mudança histórica. A terceira questão diz respeito à natureza geral da explicação sociológica e, em particular, à noção de causalidade na vida social; neste caso existem uma clara divisão entre os adeptos da explicação causal, em formas positivistas e realistas (Positivismo), os comprometidos com a explicação em termos de estados finais (Funcionalismo) e os que rejeitam a idéia de uma explicação causal dos processos sociais em favor de interpretações dos significados da ação humana (Hermenêutica).

Apesar desses problemas e discordâncias, a sociologia tem tido grande influência no pensamento social moderno, devido, em partes, à essa preocupação com a natureza e os primeiros princípios de uma ciência social, tornando-se um ponto focal para debates que, se não resolveram os problemas, elucidaram indubitavelmente as dificuldades específicas da generalização e explicação no domínio dos eventos e processos sociais.

O pensamento sociológico tem sido influente ao incutir uma percepção do contexto social mais amplo em disciplinas especializadas. Muitos dos estudos sociológicos mais interessantes foram realizados em conjunto com outras disciplinas, por exemplo, na sociologia econômica, na sociologia política e em numerosos estudos de desenvolvimento do Terceiro Mundo, nos quais sociólogos, antropólogos, economistas e cientistas políticos participaram e cooperaram.

As realizações da sociologia nessas diferentes áreas são importantes, ao ampliarem a gama de conhecimentos sistematicamente ordenados da vida social e ao proporcionarem uma base empírica e racional para a formulação de políticas públicas.

Para o futuro, a sociologia continua uma disciplina viva e crítica. Novas idéias surgirão e terão um impacto revigorante sobre o pensamento social e sobre as formas de vida social.

Dicionário do Pensamento Social do século XX – “Sociologia” – pag. 732 - 737

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Filosofia da ciência social

As ciências sociais sempre existiram em relação mais íntima com suas metateorias ou filosofias do que as ciências naturais. Cada ciência social e cada escola dentro dela tem tido problemas ontológicos, epistemológicos, metodológicos e conceituais que lhe são peculiares.

Um importante contraste pode ser traçado entre um positivismo naturalista, forte em ciência econômica, psicologia e sociologia nos moldes de Emile Durkheim e Talcott Parsons, e proeminente em países de tradição inglesa, e a hermenêutica* antinaturalista, forte nas ciências sociais e na sociologia de orientação mais humanista, na veia de Max Weber e proeminente do mundo germânico. Este contraste supera a linha divisória marxista/não-marxista. Recentemente ganhou destaque uma terceira alternativa, um naturalismo crítico ou limitado, baseado em uma descrição realista não-positivista da ciência.

As ciências sociais é notoriamente ruim como modelo de predição. Não quer dizer que as ciências sociais não possam fazer previsões condicionais, sujeita a uma causa ceteris paribus; mas a ausência de sistemas fechados significa que situações de teste decisivos são impossíveis, já que as ciências sociais devem confiar em critérios exclusivamente explicativos para confirmação e refutação.

Em relação à explicação pode-se distinguir em duas: teóricas, que procedem por descrição de características significantes, retrodução para causas possíveis, eliminação de alternativas e identificação dos mecanismos geradores ou da estrutura causal em ação; aplicadas, por resolução de um evento complexo em seus componentes, redescrição teórica desses componentes, retrodicção de possíveis antecedentes e eliminação de causas alternativas.

O mais forte argumento da hermenêutica é que, sendo os fenômenos sociais singularmente significativos ou governados por regras, a ciência social deve estar precisamente interessada na elucidação do significado do seu objeto de estudo.

A posição da hermenêutica é freqüentemente reforçada pelo argumento de que as ciências humanas estão interessadas nas razões do comportamento dos agentes e de que tais razões não podem ser analisadas como causas.

Tanto o positivismo quanto a hemenêutica foram ligados ao individualismo e coletivismo ou ao holismo*; e os positivistas acentuaram a mediação humana ou a estrutura social. Para os novos realistas a estrutura social é a condição onipresente e o resultado continuamente reproduzido da mediação humana intencional. Para os realistas críticos, a base da abstração reside na estratificação real da natureza da sociedade.

O positivismo sustenta a existência de uma enorme distância entre o fato e os enunciados de valor. A impregnação de valor do discurso factual social-científico parece fato patente. Está claramente vinculado ao caráter impregnado de valor da realidade social que as ciências sociais estão procurando descrever e explicar. Na medida em que pode-se explicar essa necessidade de consciência sistematicamente falsa acerca dos fenômenos sociais, então podemos passar, ceteris paribus, às avaliações negativas dos objetos que tornam essa consciência necessária e às avaliações positivas das ações racionalmente planejadas para transformá-las.

Dicionário do Pensamento Social do século XX – “Filosofia da Ciência Social” – pag. 319 - 321

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Primeiro Post

Neste primeiro post vou apresentar o motivo deste blog.
Depois de alguns anos "enferrujando" na ciências sociais, resolvi dar uma olhada no meu material acadêmico, para relembrar, e ver o que tinha de útil.
Encontrei uma vasta coleção de textos, resumos e resenhas, boas por sinal, que podem ser útil para muitos estudantes e pessoas interessadas na área (já que foram úteis para mim).
Como meus resumos sempre fizeram sucesso (modesta), achei que seria legal postá-los, para contribuir com o estudo de vocês, e não deixar que esses textos criem "mofos", guardadinhos para ninguém.
Espero não arranjar problemas por aqui, pois alguns textos não são de minha autoria, são textos que usei em algumas pesquisas e trabalhos, tentarei colocar as fontes.
O material encontrado aqui será de ampla abrangência na ciências sociais, já que os temas abordados serão nas suas diversas áreas: sociologia, ciência política, antropologia, geopolítica, história, economia e pesquisa.
Não pretendo gerar discussões políticas, partidárias, nem defesas em relação aos autores, são apenas resumos que trazem a idéia principal dos textos.
Espero a contribuição de vocês, enviando artigos e corrigendo prováveis erros.
Boa leitura.