sábado, 27 de junho de 2009

Os fundamentos do Positivismo e o advento da Sociologia

Introdução
    Para introduzir o pensamento filosófico do trabalho, começamos pelo pensamento de Hegel, que era considerado como a “filosofia negativa”, e como este foi “deixado” de lado introduzindo-se a “filosofia positiva”. Depois uma breve comparação entre a filosofia positiva e a filosofia negativa, comparando alguns autores. E mais adiante mostramos os pensamentos e influências de alguns dos principais autores que eram positivistas, e  como surge em meio disso tudo a sociologia.  

Hegel - a Idéia, a Natureza, o Espírito
    Os três grandes momentos hegelianos no devir dialético da realidade são a idéia, a natureza, o espírito. A idéia constitui o princípio inteligível da realidade; a natureza é a exteriorização da idéia no espaço e no tempo; o espírito é o retorno da idéia para si mesma. A primeira grande fase no absoluto devir do espírito é representada pela idéia, que, por sua vez, se desenvolve interiormente em um processo dialético, segundo o sólito esquema triádico (tese, antítese, síntese), cujo complexo é objeto da lógica; a saber, a idéia é o sistema dos conceitos puros, que representam os esquemas do mundo natural e do espiritual. É, portanto, anterior a estes, mas apenas logicamente.
    Chegada ao fim de seu desenvolvimento abstrato, a idéia torna-se natureza, passa da fase em si à fase fora de si; esta fase representa a grande antítese à grande tese, que é precisamente a idéia. Em a natureza a idéia perde como que a sua pureza lógica, mas em compensação adquire uma concretidade que antes não tinha. A idéia, todavia, também na ordem da natureza, deveria desenvolver-se mais ou menos, segundo o processo dialético, das formas ínfimas do mundo físico até às formas mais perfeitas da vida orgânica. Esta hierarquia dinâmica é estudada, no seu complexo, pela filosofia da natureza.
    Finalmente, tendo a natureza esgotado a sua fecundidade, a idéia, assim concretizada, volta para si, toma consciência se si no espírito, que é precisamente a idéia por si: a grande síntese dos opostos (idéia e natureza), a qual é estudada em seus desenvolvimentos pela filosofia do espírito. O espírito desenvolve-se através dos momentos dialéticos de subjetivo (indivíduo), objetivo (sociedade), absoluto (Deus); este último se desenvolve, por sua vez, em arte (expressão do absoluto na intuição estética), religião (expressão do absoluto na representação mítica), filosofia (expressão conceptual, lógica, plena do absoluto).
    Com o espírito subjetivo, a individualidade empírica, nasce a consciência do mundo. O espírito subjetivo compreende três graus dialéticos: consciência, autoconsciência e razão; com esta última é atingida a consciência da unidade do eu e do não-eu.
    O espírito subjetivo é estudado, em sentido vasto, pela psicologia, que se divide em antropologia, fenomenologia do espírito, psicologia propriamente dita. Não estando, pois, o espírito individual em condição de alcançar, no seu isolamento, os fins do espírito, de realizar a plena consciência e liberdade do espírito, surge e se afirma a fase do espírito objetivo, isto é, a sociedade.
    No espírito objetivo, nas concretizações da sociedade, Hegel distingue ainda três graus dialéticos: o direito (que reconhece a personalidade em cada homem, mas pode regular apenas a conduta externa dos homens); a moralidade (que subordina interiormente o espírito humano à lei do dever); a eticidade ou moralidade social (que atribui uma finalidade concreta à ação moral, e se determina hierarquicamente na família, na sociedade civil, no estado).
    A sociedade do estado transcende a sociedade familiar bem como a sociedade civil, que é um conjunto de interesses econômicos e se diferencia em classes e corporações. O estado transcende estas sociedades, não porque seja um instrumento mais perfeito para a realização dos fins materiais e espirituais da pessoa humana (a qual unicamente tem realidade metafísica); mas porque, segundo Hegel, tem ele mesmo uma realidade metafísica, um valor ético superior ao valor particular e privado das sociedades precedentes, devido precisamente à sua maior universalidade e amplitude, isto é, é uma superior objetivação do espírito, segundo a metafísica monista-imanentista de Hegel, daí derivando uma concepção ético-humanista do estado, denominada por Hegel espírito vivente, razão encarnada, deus terreno.
    Segundo a dialética hegeliana, naturalmente a sucessão e o predomínio dos vários estados na história da humanidade são necessários, racionais e progressivos; e necessária, racional e progressiva é a luta, a guerra, graças à qual, ao predomínio de um estado se segue o predomínio de um outro, a um povo eleito sucede um outro. Este, no fundo, tem razão sobre o vencido unicamente porque é vencedor, e aquele tem culpa unicamente porque é vencido. A história do mundo - com todo o mal, as injustiças, os crimes de que está cheia - seria destarte o tribunal do mundo. (O que se compreende, quando se faz coincidir o "ser" com o "deve ser", como acontece de fato no sistema hegeliano, graças à dialética dos opostos, em que os valores são nivelados, porquanto igualmente necessários para a realização da idéia).
    Se bem que no sistema hegeliano a vida do espírito culmine efetivamente no estado, põe dialeticamente acima do espírito objetivo o espírito absoluto, em que, através de uma última hierarquia ternária de graus (arte, religião, filosofia), o espírito realizaria finalmente a consciência plena da sua infinidade, da sua natureza divina, em uma plena adequação consigo mesmo.
    Na arte o espírito tem intuição, em um objeto sensível, da sua essência absoluta; quer dizer, o belo é a idéia concretizada sensivelmente. Portanto, no momento estético, o infinito é visto como finito. Na religião, pelo contrário, se efetua a unidade do finito e do infinito, imanente no primeiro; mas em forma sentimental, imaginativa, mítica. Hegel traça uma classificação das religiões, que não passa de uma história das mesmas, segundo o seu sólito método dialético. Nessa classificação das religiões o cristianismo é colocado no vértice como religião absoluta, enquanto no ministério da encarnação do Verbo, da humanação de Deus, ele vê, ao contrário, a consciência que o espírito (humano) adquire da sua natureza divina.
    Acima da religião e do cristianismo está a filosofia, que tem o mesmo conteúdo da religião, mas em forma racional, lógica, conceptual. Na filosofia o espírito se torna inteiramente autotransparente, autoconsciente, conquista a sua absoluta liberdade, infinidade. Como as várias religiões representam um processo dialético para a religião absoluta, assim, os diversos sistemas filosóficos, que se encontram na história da filosofia, representariam os momentos necessários para o advento da filosofia absoluta, que seria o idealismo absoluto de Hegel.

Filosofia Positiva e Filosofia Negativa
    Na década que se seguiu à morte de Hegel, o pensamento europeu entrou numa Era de “positivismo”, anunciando-se como o sistema da Filosofia Positiva. Pode-se citar importantes autores positivistas, como: Comte (filosofia positiva do Estado), Stahl (representante do positivismo na filosofia do Direito), Schelling (visava ao que era realmente efetivo e existente), entre outros, que poderão ser citados durante o texto.
    A filosofia positiva de Schelling é muito diferente da de Comte, para este, “positivo” são os fatos comuns da observação, enquanto Schelling acentua que a experiência não é limitada aos fatos dos sentidos externo e interno. Comte está orientado para a ciência física e para as leis necessárias  que governavam a realidade, Schelling procurava expor uma “filosofia da liberdade” e afirma que a atividade criadora livre é o último dado da experiência.
    A filosofia positiva era uma reação consciente contra as tendências críticas e destrutivas dos racionalismos francês e alemão. Por suas tendências críticas, o sistema hegeliano fora designado como uma “filosofia negativa”. A filosofia de Hegel repudiava qualquer realidade irracional e irracionalizável. Este tipo de filosofia nega ao dado a dignidade do real; ela contém o “princípio da revolução”. A afirmação de Hegel de que o real é racional foram compreendida como se apenas o racional fosse real.
    A filosofia positiva empreendia seu contra-ataque ao racionalismo crítico em duas frentes: Comte lutava contra a forma francesa de filosofia negativa (Descartes e o Iluminismo), e Schelling e Stahl, lutavam na Alemanha contra o sistema de Hegel. Este duplo ataque da filosofia positiva é o que caracteriza a história do pensamento pós-hegeliano.
    A filosofia positiva visava a neutralizar o processo crítico implicado na “negação” filosófica do dado, e a restituir aos fatos a dignidade do positivismo. O método positivista certamente destruiu muitas ilusões teológicas e metafísicas e promoveu a marcha do pensamento livre, assim o positivismo pretendia ser a integração do conhecimento humano.
    O positivismo veio facilitar a sujeição do pensamento a qualquer coisa que existisse e que manifestasse o poder de durar na experiência. A filosofia positiva levava à confirmação da ordem existente contra aqueles que afirmam a necessidade da sua “negação”.
    A Teoria Social moderna recebeu do positivismo seu maior estímulo durante o século XIX. A Sociologia originária deste positivismo e da sua influência desenvolveu-se numa ciência empírica independente.

Saint-Simon
    Como Hegel, afirmava que a ordem social engendrada pela Revolução Francesa demonstrava que a humanidade havia atingido seu estágio adulto e também estava convencido de que esta nova ordem continha a conciliação da idéia com a realidade; contra Hegel, ele descrevia este estágio adulto em termos econômicos, o processo industrial era o único fator de integração da nova ordem social. O progresso das condições econômicas exige que a filosofia se transforme em teoria social, e a teoria social é a mesma coisa que a economia política ou “a ciência da produção”.
    De início, Saint-Simon se contentou em proclamar os princípios do liberalismo radical, e também teve uma visão otimista da sociedade industrial. A nova ordem industrial era acima de tudo uma ordem positiva, que representava a afirmação e a satisfação de todos os esforços humanos em favor de uma vida feliz e abastada. Não era necessário superar o dado; a filosofia e a teoria social só precisavam de compreender e organizar os fatos. A verdade devia ser derivada dos fatos e só deles. Saint-Simon tornou-se, portanto, o fundador do positivismo moderno.
    Hegel chegara ao ponto em que a sociedade, que representava o estágio histórico do autodesenvolvimento dos homens, tinha de ser interpretada como a totalidade das relações humanas. Era esta interpretação filosófica da teoria social que tornava a liberdade uma teoria crítica da economia política. 
    A filosofia de Saint-Simon se desenvolveu justamente na direção oposta a de Hegel. Ela começou com a reconciliação da idéia com a realidade e acabou por considerá-las inconciliáveis. Sua doutrina reflete as convulsões sociais causadas pelo progresso da industrialização sob a Restauração.
    Algum tempo após Saint-Simon “inaugurar” o positivismo, a teoria social elaborava esta refutação radical da ordem social pela qual ele havia justificado sua nova filosofia. O sistema industrial passou a ser considerado o sistema da exploração capitalista. A doutrina do equilíbrio harmonioso foi substituída pela doutrina da crise inerente. O progresso econômico não significava necessariamente o progresso humano. A filosofia social recorreu ao dogma do progresso e abdicou da economia política como fundamento da teoria social.

A Filosofia Positiva da Sociedade – Auguste Comte
    Comte foi o responsável pela separação da teoria social com a filosofia negativa e colocou-a sob a ótica do positivismo. Fez da sociedade objeto de uma ciência independente, a sociologia, pois agora renunciava ao ponto de vista transcendente da crítica filosófica e tornava-se um complexo mais ou menos definido de fatos, governados por leis mais ou menos gerais.
    A filosofia positiva de Comte é uma contradição in adjecto. Ela refere-se a uma síntese de todo conhecimento empírico ordenado em um sistema de progresso harmonioso, seguindo um curso insensível. As  oposições às realidades sociais são subtraídas à discussão filosófica.
    Em Comte, a nova sociologia deve estar ligada aos fatos da ordem social vigente. Ele não nega que esta necessite de correção e aperfeiçoamento, mas exclui as possibilidades de se tentar negar ou superar esta ordem. Em conceito, o interesse da sociologia positiva é sua justificativa e apologética.
    Entretanto nem todos os movimentos positivistas foram assim. Durante o século XVIII o positivismo foi revolucionário. Era um ataque direto às concepções religiosas e metafísicas, que constituíam o suporte ideológico do Antigo Regime. Já os positivistas do Iluminismo, não visavam uma ciência bem ordenada e sim uma prática social e política, que provasse a prática humana em comparação à um padrão de verdade transcendental à ordem social que não existia como um fato, mas como meta. Para estes iluministas a “sociedade ideal” não resultava de fatos existentes, mas de uma análise filosófica da situação histórica e revelada a eles sob a forma de sistema social e político opressivo. A razão poderia dominar o mundo e os homens poderiam transformar suas “vidas obsoletas” se agissem baseados no conhecimento e capacidade desta razão.
    A filosofia positiva de Comte é uma defesa ideológica da sociedade de classe média e o embrião da justificação filosófica do autoritarismo. O resultado deste positivismo veio a ser um sistema religioso com o culto de símbolos, nomes e sinais de maneira requintada.
    O positivismo rejeitava o idealismo, isto é, substituiu pouco a pouco, a livre espontaneidade do pensamento por funções predominante receptivas. Para os idealistas a razão estava ligada a idéia de liberdade e opunha-se a toda concepção de uma necessidade natural imposta à sociedade. Já a filosofia positiva tendia a igualar o estudo da sociedade ao estudo da natureza, tornando a ciência natural arquétipo da teoria social, ou seja, a sociedade era concebida como governada por leis racionais que funcionavam com a necessidade natural.
    Comte submeteu a teoria social ao princípio do “espírito autêntico” do positivismo, dogma geral da invariabilidade das leis físicas, como forma de libertá-la da teologia e da metafísica, emprestando-lhe a situação de uma ciência. O repúdio positivista da metafísica foi, assim, associado ao repúdio da exigência do homem de alterar e reorganizar suas instituições sociais de acordo com a sua vontade racional.
    Comte também encarregara à sociologia de assegurar este ensinamento como um meio de estabelecer “os limites gerais de toda ação positiva”. A política “positiva” que defende, tende por sua natureza a consolidar a ordem pública.
    Na sua propaganda pró-positivismo visa declarar que a ciência genuína não tem outro fim geral que o de “estabelecer e fortificar” constantemente a ordem intelectual que é base indispensável de toda ordem verdadeira. A ordem na ciência e na sociedade fundem-se num todo indistinto e sua meta é justificar e fortificar esta ordem social. A política positivista tenta desviar de si os olhos da opinião pública, concentrando assim de forma primeira, todo esforço social em uma “renovação moral”. O positivismo está interessado em ajudar a transformar a agitação política em cruzada filosófica em que os homens percebem que sua ordem social está assentada em leis eternas que ninguém pode transgredir sem punição e segundo estas leis toda forma de governo é transitória, o que torna a Revolução sem sentido.
    Percebe-se que o positivismo de Comte legitima a consolidação do poder nas mãos da classe dominante e defende esta classe das incursões anarquistas. Sua filosofia visa a organização e não a distribuição, e por isso jamais fará uma negação absoluta. As leis que a ciência positiva descobrira eram diferentes do empirismo e positivismo no sentido em que afirmam a ordem estabelecida como base para a negação da necessidade de construção de uma nova ordem. Há uma idéia progressista, que está presente nos mecanismos da ordem estabelecida sendo que esta progride suavemente sem ter de ser destruída.
    O positivismo pretende sistematizar a totalidade das as idéias, tem uma idéia de ordem muito forte e a sociologia positivista é uma “estática social”, pois considera que há uma harmonia verdadeira e permanente entre as diversas condições de existências de sociedade. Esta teoria positivista de autoridade tem em vista uma sociedade que baseia toda sua atividade no consentimento da vontade dos indivíduos e essa submissão a uma autoridade absoluta fornece o grau máximo de segurança.
    A sociologia de Comte é um misto de estática e dinâmica social. Tenta conciliar a ordem e o progresso, para completar a satisfação comum da exigência de ordem e progresso, o programa positivista de reformas sociais perfigura a passagem do liberalismo ao autoritarismo, pois as leis necessárias do progresso não excluem os esforços práticos em direção a uma reforma social que removesse quaisquer obstáculos que estivessem no caminho daquelas leis.
    Portanto percebe-se que o sistema de Comte conserva a função libertadora da filosofia ocidental, porque tende a transpor o abismo que separa os indivíduos isolados e a uni-los em um universo real. A sociedade é uma universalidade presente na obra de Comte. “Ela” funciona como um palco único, no qual o homem desempenha sua vida histórica, e além desta, como o único objeto da teoria social. O indivíduo acaba por ser completamente absorvido nesta sociologia, não tem representatividade singular e o Estado é um mero subproduto de leis implacáveis que governam o progresso social.
    A teoria positiva da sociedade não vê razão para confinar o desenvolvimento humano aos limites dos estados nacionais soberanos. Sua concepção de ordem universal é fundamentada pela união de todos os indivíduos na humanidade e a destruição positivista dos padrões teológicos e metafísicos obsoletos atinge o clímax no reconhecimento da humanidade não como estado, mas como universo real, isto é realidade única. Seria a única entidade digna de reverência.

A Filosofia Positiva do Estado: Friedrich Julius Stahl
    Na França, a filosofia positiva afirmava que o curso da História humana pressionava no sentido da subordinação final de todas as relações sociais aos interesses da indústria e da ciência, com isto significando que o Estado seria lentamente absorvido por uma sociedade que tivesse abraçado a Terra.
    Em contraste com sua forma na França, a filosofia positiva na Alemanha era de espécie inteiramente diferente. Enquanto na Inglaterra e na França o feudalismo fora inteiramente destruído por uma classe média poderosa e rica, concentrada nas grandes cidades, e particularmente na capital, a nobreza feudal na Alemanha conservava grande parte dos seus antigos privilégios.
    A Restauração fortalecera o absolutismo e este triunfou, seguido da transformação completa do quadro cultural:
•    irracionalismo teístico
•    idéia cristã do Estado
    A Universidade de Berlim deixara de ser de Hegel e dos hegelianos, e tornava-se a universidade dos filósofos da Revolução, como Stahl.
    O sistema hegeliano, que considerava o Estado e a sociedade como uma totalidade “negativa”, e que sujeitava ambos ao processo histórico da razão, não mais podia ser aprovado como a filosofia oficial. Para o novo governo nada poderia ser mais suspeito do que a razão e a liberdade. Ele precisava de  um princípio positivo de justificação, que protegesse o Estado das forças rebeldes que o defendesse, com mais vigor do que o faria Hegel, das violentas investidas da sociedade.
    A reação positivista que surgiu na Alemanha foi, estritamente, uma filosofia do estado, não da sociedade.
    A significação da filosofia de Stahl se encontra precisamente na adaptação do autoritarismo anti-racionalista ao desenvolvimento social da classe média. Ele era anti-liberal, contudo não falava somente em nome do passado feudal, mas também em nome daquele futuro histórico em que a própria classe média se tornaria anti-liberal.
    Seu inimigo não era a classe média mas a Revolução que ameaçava esta classe,  ao mesmo tempo que ameaçava a nobreza e o estado monárquico. Seu anti-racionalismo servia à causa de uma aristocracia dominante que se atravessava no caminho do progresso racional; e servia também ao interesse de todo domínio que não se pudesse justificar com fundamentos racionais.
    Ele condenava o racionalismo moderno como a matriz da revolução; tal filosofia, dizia ele, significava para o domínio da interioridade da religião o que a revolução significava para o domínio externo, político, isto é, o afastamento do homem de Deus.
    Já que o racionalismo tinha recebido sua expressão mais representativa em Hegel, o ataque de Stahl concentrou-se contra ele.
    Stahl considerava que a mais perigosa concretização do racionalismo era a teoria do Direito Natural. Ele a compreendia como investindo o indivíduo com mais direitos, e mais altos, do que aqueles que lhes concedia o direito positivo. Ele opunha, pois, à tese do direito natural a concepção que o direito e o direito positivo são conceitos equivalentes, e à dialética “negativa” ele opunha uma “filosofia positiva” do autoritarismo.
    Ele reprovava a filosofia de Hegel, sua dita inabilidade em explicar os fatos particulares que compunham a ordem da realidade. Sempre preocupado com o universal, Hegel jamais descia dos conteúdos individuais, que eram os verdadeiros conteúdos do dado.
    Stahl incorporou à sua filosofia positiva os princípios das escolas “naturalistas”, com o fim expresso de empregá-los como princípios de justificação.
    Por isso, seu método consiste, essencialmente, em deduzir, da vontade de Deus, por meios diretos e indiretos, toda a ordem social e política. Quando mais vital for o assunto em questão, mais direta é a dedução. A distribuição da riqueza é obra do “decreto divino”. As instituições da sociedade são fundadas sobre a ordenação divina do mundo dos homens. A desigualdade social é vontade de Deus. O estado e seus representantes são uma “instituição divino”, e embora o homem tinha liberdade de viver sob esta ou aquela constituição, não apenas o estado como tal decorre de decreto divino, como também a constituição particular e as autoridades particularidades possuem, por toda parte, sanção divina.

A transformação da Dialética em Sociologia: Lorenz von Stein
    Stein é influenciado pela filosofia de Hegel. Para o desenvolvimento da teoria social sua obra é insignificante, pois ele é considerado um historiador da Revolução Francesa e das teorias sociais da França, e não como um teórico.
    A princípio ele toma a teoria social como “ciência da sociedade” que investiga de modo particular as relações sociais entre os homens e as leis e tendências que nela operam, sendo assim as relações sociais podem se diferenciar das relações físicas, econômicas, políticas ou religiosas, mas jamais ocorrem sem elas.
    A sociologia é relacionada com o estudo geral da sociedade deixando grande número de problemas para o estudo de outras ciências especializadas, por exemplo: o problema da distribuição da riqueza e investimento internacionais, são estudados pela economia, já os problemas sociais podem ser estudados pela ciência política e pela educação; mas, acima de tudo a sociologia está desligada de qualquer ligação com a filosofia.
    Comte é considerado o criador da separação da sociologia da filosofia, dizendo que a sociologia não nega a filosofia no sentido de assumir o conteúdo oculto da filosofia, e de levá-la à teoria e à prática sociais, mas situa-se num domínio apartado da filosofia com circunscridade e verdade próprias.
    Comte e os pensadores desta tradição igualam a teoria social com a filosofia, assim Stuart Mill esboçou sua lógica da ciências sociais dentro de uma lógica geral compreensiva, e Spencer fez os princípios da sociologia uma parte do seu sistema de filosofia sintética. Sendo assim a sociologia torna-se tema de um campo independente de investigação.
    O método sociológico era orientado no sentido de descrever os fatos observados e de estabelecer generalidades empíricas sobre eles, contrastando assim com a dialética, que considerava o mundo como uma totalidade negativa e o método sociológico como intrinsecamente neutro, ou seja, considerava a sociedade da mesma maneira que a física considerava a natureza. Além disso a teoria social dialética considera quais relações sociais abarcavam e condicionavam todas as esferas da existência. Por essas razões a dialética era um método filosófico e não sociológico. O método no qual cada conceito dialético singular continha toda a totalidade negativa e portanto entrava em conflito com qualquer recorte destacado de um domínio especial das relações sociais.
    Qualquer tentativa no campo da sociologia ou teoria que desmentir a pretensão dialética ou teoria que separá-la do seu fundamento filosófico como o fez Stein, que transformou as leis e conceitos dialéticos em leis e conceitos sociológicos, sendo assim Stein considera sua obra a primeira tentativa de construção do conceito de sociedade como um conceito independente e desenvolvido do seu conteúdo.
    Stein presenciou a Revolução Francesa, observou as lutas de classes e os acontecimentos pós revolucionários, a partir deste contexto sua abordagem histórica concreta induziu-o a dizer que o processo econômico era a base do processo social e político, e que a luta de classes era o conteúdo decisivo da sociedade. Mas para conservar a sociologia como uma ciência objetiva teve que renunciar à sua posição diante do antagonismo dentro do processo econômico renegando assim a tentativa de fundamentar a teoria social sobre a economia política.
    Então a sociologia de Stein, agora, defende a harmonia social em face das contradições econômicas e da moral em face das lutas sociais, trabalhando assim com a idéia do antagonismo entre o Estado e a sociedade, considerando a sociedade como a unidade orgânica da vida humana, enquanto condicionada pela distribuição da riqueza, regulada pela organização do trabalho, movida pelo padrão das necessidades e ligada em sucessivas gerações pela família e seu direito, e o Estado como a comunidade de todas as vontades individuais elevadas a uma união pessoal, esta separação entre o Estado e a sociedade foi de grande importância para a evolução da sociologia, porque dispôs o problema efetivo da moderna teoria social.
    De certo, o processo de transformação dos conceitos filosóficos em conceitos sociológicos, acaba por reduzir a existência histórica do homem aos mecanismos inalterados do processo social, e por reservar seu destino e finalidade moral, concebendo que o processo social é uma luta entre o estado e a sociedade, ou como uma luta da classe dominante pelo poder do estado. O princípio do estado é elevar todos os indivíduos à liberdade perfeita; o princípio da sociedade, subjuga alguns indivíduos a outros. A história é na realidade, a renovação constante deste conflito, em níveis diferentes, e o progresso da história ocorre através de mudanças da estrutura social, resultantes deste conflito, estabelecendo as leis naturais dessas mudanças, luta entre as classes sociais para apoderar-se de poder do estado, quando isto é atingido, começa um novo processo, que consiste interesses positivos de atingir o uso do poder do estado pela classe dominante. Acrescentando que são possíveis duas transformações para consolidar em conflito: a reforma política e a revolução, concluindo que todo revolução resulta em um novo conflito de classes e em uma nova forma de sociedade, apoiando assim a reforma política. Enfim, o homem exige a liberdade e quer possuí-la. Então a classe que quer a “revolução”, ascendeu ao poder, interessa trabalhar pela reforma social, com todas as suas forças e com o auxílio do estado e do seu poder.
    Stein transformou, pois, a dialética em um conjunto de leis objetivas que clamam pela reforma social, como solução adequada para todas as contradições e mutalizou os elementos críticos da dialética.

Conclusão
    Hegel foi quem influenciou todos os pensamentos e pensadores da época, alguns estiveram de acordo com seu pensamento, enquanto outros se opuseram a este pensamento. Com essa oposição surgiram outras importantes teorias, formuladas por importantes autores da época (como os citados no texto), e também em face dessa oposição, surgiu a sociologia como ciência.
    O objetivo do texto foi mostrar o pensamento  de Hegel, como ele influenciou os outros pensadores, como se deu o fim do pensamento hegeliano, surgindo assim, o positivismo, e quais são os mais importantes autores positivistas, e suas teorias; e como a partir disto a dialética se “transformou” em sociologia.

Bibliografia

  • Marcuse, Hebert; Razão e Revolução: Hegel e o advento da teoria social; tradução: Marília Barroso, coleção O Mundo Hoje, vol. 28, Rio de Janeiro, 4ª edição; 1988, ed. Paz e Terra.
  • Bobbio, Norberto; Teoria Geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos; org. Michelangelo Bovero; tradução: Daniela Beccaccia Versiani, Rio de Janeiro, ed. Campus; 2000; 5ª tiragem.
  • Hegel – Coleção Os Pensadores
  • www.filosofos.com.br – Filósofos – temas e fóruns sobre autores e assuntos de filosofia
  • www.mundodosfilosofos.com.br – Textos de Hegel

Trabalho de Metodologia das Ciências - ano 2002

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