quinta-feira, 25 de junho de 2009

Trabalho de Sociologia (2002)

INTRODUÇÃO

A instituição social é algo que data de épocas longínquas, trataremos aqui de duas importantes instituições sociais: a linguagem e os segmentos sociais. Tanto os segmentos sociais quanto a socialização podem ser influenciadas pela globalização, que tem como característica central a instalação de uma mídia planetária cada vez mais poderosa, que mais parece uma determinação social. Esta globalização pode acabar com a individualidade – destruindo os segmentos sociais – e objetivar uma sociedade polarizada.

Assim, relacionaremos instituição social e globalização e os vários fatores que influem e determinam esses acontecimentos, e também sobre como o ser humano é criado, desde o nascimento, na sociedade em que se insere, e como a globalização mudou essas pessoas e seus relacionamentos com outras pessoas e com a sociedade e formaram-se seus conceitos sobre classe social.

DISCUSSÃO

A instituição social é um padrão de controle da conduta individual imposta pela sociedade. É considerada como uma entidade que tem vida própria e é praticamente imutável.

A linguagem humana pode ser definida como uma aptidão ou capacidade que se manifesta por meio de conjuntos organizados, esta por sua vez, é utilizada pela comunidade para a interação social. Do ponto de vista social, a linguagem caracteriza-se por um conjunto de hábitos aprendidos e até difíceis de mudar. Se a língua precisa ser aprendida é porque ela é uma convenção, resultante de um acordo subentendido entre os indivíduos, e adquirida por tradição. Por isso se diz que ela é um determinado tipo de instituição social e, sendo assim, é exterior ao indivíduo que não pode criá-la e nem modificá-la.

A estratificação social também é uma instituição. É ela quem decide – de acordo com as posses de cada indivíduo – o estrato social ao qual ele pertence. O que foge ao controle dessa instituição é a consciência de classe que cada um tem. Ás vezes, o indivíduo se identifica com um determinado estrato social, seja perla identificação intelectual, moral, religiosa ou qualquer outro tipo, que não seja o estrato correspondente ao seu nível financeiro.

O importante para a identificação da classe social na qual cada indivíduo se insere é o status que ele tem, ou seja, a classe está associada também ao poder e prestígio, segundo Elizabeth Both.

Em contrapartida, Octávio Ianni (ver parte de uma entrevista em anexo), com seu olhar marxista sobre a sociedade, pensa as classes sociais dividida em dois pólos distintos: a burguesia, que são os indivíduos globalizados e o proletariado que são os indivíduos não globalizados. “O centro do mundo não é mais voltado só ao indivíduo” (Octávio Ianni, 1995). Isso reflete uma mudança na consciência de classe: que antes dependia das relações de trabalho e depende agora somente dos meios globalizados que influenciam os indivíduos.

A globalização abriu uma diversidade de interpretações de mundo que antes era acessível a poucas pessoas. Preconceitos, sotaques, raças, não são tão importantes na globalização, pois o indivíduo não existe mais, apenas o coletivo. As relações sociais se tornaram mais intensas, porém não são mais interações do tipo face a face. Todos têm acesso aos diferentes tipos de mundo. A globalização aproximou mundos completamente opostos proporcionando um intercâmbio cultural.

Há muito a globalização se tornou algo comum, pois o Ocidente necessitava comercializar com o Oriente, havia também a necessidade de conquista de novos territórios e com isso acontecia a circulação de estrangeiros. Com tudo isso a globalização foi se tornando uma determinação social. É algo que se impõe constantemente aos indivíduos e os que não se submetem sofrem a força das normas e regras dela. Um exemplo disto é Cuba, um país socialista que está sofrendo a força das normas e regras da determinação social – globalizações – através do embargo econômico aplicado lá pelos Estados Unidos.

Do mesmo modo que “a criança é socializada para um mundo específico e uma individualidade determinada (Berger e Berger, 1997) a globalização é ensinada ao indivíduo desde a época em que se criou a necessidade da interação social com novos universos. A globalização nos foi ensinada, ou melhor, imposta assim como a socialização para um mundo específico e a individualidade é como os interesses de cada indivíduo. Essa imposição da globalização sobre a sociedade faz com se perca os valores culturais de uma região e uma homogeneização das características sociais do mundo.

Existem vários tipos de malhas da rede de relacionamentos:

· Estreita: quando o casal, por exemplo, vem de uma mesma comunidade e nunca se mudou de cidade, têm os mesmos amigos a vida toda. Aí há a segregação dos papéis feminino e masculino.

· Frouxa: quando o casal tem várias experiências; amigos diferenciados; mudaram-se de cidade, etc. Aí não há tanta segregação de papéis.

· De transição: Quando a malha estreita vai se tornando frouxa.

De acordo com essas malhas as pessoas têm diferentes visões da sociedade e da vida. As pessoas mais móveis, geograficamente, são mais ambiciosas em relação à ascensão social – por exemplo, os pais de uma malha frouxa não desejam que os filhos continuem no mesmo nível social (geralmente), mas que ascendam. “As pessoas têm necessariamente de fazer uso de suas experiências pessoais para alcançar uma definição sobre a estrutura de classe funcione; e as suas necessidades pessoais e seus desejos entram também nisto. Os conceitos de classe são usados para uma orientação geral na sociedade mais ampla, para posicionar os estranhos e para avaliar as próprias posições, bem como as dos outros” (Elizabeth Both, 1976).

Podemos estabelecer uma ligação entre Octávio Ianni e Elizabeth Both: depende das experiências pessoais a camada social na qual se inserirá o indivíduo. Quanto maior o número de experiências e mais frouxa dor a malha mais perto o indivíduo estará da globalização.

CONCLUSÃO

Nos parece que a globalização de Octávio Ianni é como que uma conseqüência da malha frouxa, ou seja, quanto mais experiências o indivíduo tem mais amplas são suas ambições em relação à ascensão social. De acordo com a quantidade de experiências do indivíduo é que ele próprio estabelece a camada social da qual compartilha valores; e quanto mais experiências, mais perto da globalização ele está e consequentemente, mais próximo da burguesia também (burguesia pensada como classe com mais status).

É praticamente impossível estabelecermos um critério universal para a conceituação das camadas sociais, pois as pessoas discordam profundamente em suas leituras das mesmas.

Enquanto a sociedade – para os indivíduos – é feita de estratificação social, a globalização organiza a sociedade em duas classes bem distintas (visão marxista).

O indivíduo adquire suas experiências através da própria individualidade determinada e também do mundo para o qual ele foi socializado, então a diversidade de critérios para camadas sociais é justificada pelas diferentes leituras das determinações e instituições sociais.

ANEXO

Estes depoimentos foram retirados de um debate entre Octávio Ianni (professor), Lobão (compositor) e Hermano Penna (cineasta), feito pela revista Caros Amigos e encabeçado por José Arbex Jr., com o título “Globalitarismo e cultura”

Aqui vamos colocar apenas os principais depoimentos de Octávio Ianni sobre globalização, que podem se relacionar, confirmando e as vezes contrariando, com a discussão feita.

“No mundo contemporâneo, há uma fabricação intensa e crescente de produtos culturais, das mais diferentes e diversos tipos, como mercadorias. Eles movimentam empresas, organizações, corporações. Como as corporações, em geral, são enraizadas em países que têm poder econômico e que dispõem de tecnologias, eles acabam se impondo no âmbito da produção cultural, inclusive avassalando as produções dos demais países. Os países mais pobres têm uma grande riqueza cultural, mas essa riqueza não pode fazer face à expansão avassaladora da indústria cultural organizada em termos de corporações. É claro que isso está criando um desafio importantíssimo, não só em termos das tradições culturais das diferentes nações, mas em termos de diferentes atividades culturais relativas ao que é a expressão das pessoas. Disso está resultando uma espécie de asfixia das criações culturais de diferentes setores, às vezes de um pequeno grupo, às vezes de uma nacionalidade, freqüentemente de nações. O que estamos vendo é uma espécie de “mcdonaldização”, uma expansão da Disneylândia como espírito da cultura de massa em escala mundial.”

“ De fato, não podemos afirmar que está havendo um processo de homogeneização. Há um predomínio, uma expansão crescente das atividades e produções de mercadorias culturais orquestrada por grandes empresas. Essas maiores empresas estão conseguindo inventar elementos culturais, engendrar produtos culturais. (...) Não há homogeneização, mas há uma expansão crescente daqueles que são mais poderosos na produção e difusão de valores culturais. Com a implicação, primeiro, de que as produções locais, regionais, de nacionalidade, de nações, ficam bloqueadas, impossibilitadas de se expandir, de se manifestar e de dar continuidade à sua potencialidade. E há outro problema: a cultura diz respeito à vida dos povos, dos indivíduos, é o momento essencial da constituição das pessoas. A cultura é a alma das coletividades. A cultura, em geral, é toda uma visão do mundo. Se o povo está impossibilitado de expressar a sua criatividade, as suas tradições, as suas ambições e utopias, não há dúvida que este é um grave problema. (...) ninguém, nenhum indivíduo, nenhum povo jamais é passivo em termos absolutos. Sempre recria, reinterpreta, sempre decodifica em outros termos. O problema é que o que chega, chega poderoso como avalanche, chega orquestrado, e esse é o grande desafio. O monopólio das tecnologias de comunicação, em âmbito global, exercido por uma poucas corporações, remete à famosa frase de McLuhan: os desenvolvimentos dos audiovisuais, das comunicações eletrônicas do mundo contemporâneo, é aí que vai se realizar a batalha decisiva pelas mentes e corações dos povos. E isso é grave. E o domínio dos oligopólios não deixa espaço para a disputa democrática, para a controvérsia, não há aberturas para que haja o exercício de um certo tipo de humanismo. O que existe é sexo e violência, estetização e sensualização das coisas, seja o que for, e nesse sentido temos então o empobrecimento sério da sensibilidade e da percepção das pessoas.”

“(...) Há uma agressiva expansão de produções culturais, essa fabricação enlouquecida de produtos culturais que é um desafio para todo mundo, para todos os povos. Mas cabe esclarecer o seguinte. Primeiro, vivemos sempre, desde os primeiros momentos da história da humanidade, e cada vez mais nos tempos modernos, um processo ou vários processos da maior importância de transculturação, e a transculturação, por princípio, é altamente positiva. A multiplicação de contatos, de diálogos, a absorção e a troca de elementos, isso é da maior importância. È altamente positivo que haja diálogo, intercâmbio, que não haja barreiras às criações culturais dos diferentes povos. O grande problema é que a produção cultural, por exemplo, do cinema brasileiro, literalmente não entra nos Estados Unidos, ou só entra em setores muito restritos. O cinema de outros povos e continentes tem uma possibilidade limitada de entrar na Europa. Os europeus, que estão com problemas com os americanos, também são resistentes às produções de outros povos. É nesse quadro de luta de interesses que se dá o problema de monopolização, de criação de barreiras, e portanto de intercâmbio que não é plural, que não é democrático. Esse é o grande problema: como quebrar esses monopólios, esses exclusivismos que bloqueiam a transculturação.”

“Vivemos num mundo em que a produção de mercadoria é um processo contínuo, crescente e avassalador. O capitalismo é um modo de produção de mercadorias, então estamos diante de uma situação que é realmente difícil: como defender a produção de bens culturais que tenham a ver com certo humanismo, uma certa pluralidade, uma certa inovação, uma certa vanguarda, sem ficar prisioneiro dessa condição que é a de produzir mercadorias? Aí entra o problema de como certas organizações, certos governos, eventualmente partidos, igrejas, podem ou não criar espaços, criar recursos que permitam que a criatividade tenha continuidade sem estar primária e fundamentalmente determinada pela condição de mercadoria.”

BIBLIOGRAFIA

- BERGER, P. e BERGER, B. (1997) – “O que é uma instituição social” e “Socialização: como ser membro de um grupo” in M.M. Forachi e J.S. Martins (orgs.) Sociologia e Sociedade, SP, Livros Técnicos e Científicos Ed.

- OCTAVIO IANNI, Teorias da Globalização, RJ, Civilização Brasileira, 1995. Capítulo (Metáforas da Globalização”

- ELIZABETH BOTH – Famílias e redes sociais, capítulo VI, Normas e Ideologia : conceitos de classe, RJ, Editora Francisco Alves, 1976.

- Dicionário de Ciências Sociais, FGV/MEC, RJ, 1986. Verbetes sobre classe média, classe social, estamento, estratificação e status.

- Dicionário do Pensamento Marxista, Zahar, 1988. Verbetes sobre classe, classe dominante, classe operária, consciência de classe e luta de classe.

- Caros Amigos – ano IV, número 38, maio 2000, Editora Casa Amarela, pag. 20 – “Globalitarismo e cultura”

Trabalho de Introdução à Sociologia – ano 2002

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