sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Prova de Sociologia Clássica – A Divisão do Trabalho Social – Émile Durkheim

Questão 1 – Qual é a função da divisão do trabalho.
    Pode-se considerar a divisão do trabalho sob um novo aspecto; sendo assim os serviços econômicos que ela proporciona são de menor importância em relação ao efeito moral que produz, e sua verdadeira função é criar entre duas ou mais pessoas um sentimento de solidariedade.
    Um bom exemplo é a divisão sexual do trabalho, um homem e uma mulher buscam a paixão, um do outro, pelas desigualdades, se complementando, e não por serem semelhantes, assim a divisão sexual do trabalho é a fonte da solidariedade conjugal. Se os próprios sexos não tivessem se separado totalmente, toda uma forma de vida social deixaria de existir. Pode ser que a utilidade econômica da divisão do trabalho resulte disso, mas ela ultrapassa o campo dos interesses econômicos, pois ela consiste no estabelecimento de uma ordem social e moral sui generis.
    O efeito mais notável da divisão do trabalho não é que aumente o rendimento das funções divididas, mas as tornam solidárias. Desse modo, sua função não é simplesmente melhorar as sociedades existentes, e sim, tornar as sociedades possíveis.
    Os indivíduos não são solidários não por um curto espaço de tempo, mas por muito além.
    A imagem do que nos completa passa a integrar a nossa consciência, de modo que não podemos mais ficar sem ela. A solidariedade não pode existir entre duas pessoas, a não ser que as imagens de cada um se completem com a do outro.
    A divisão do trabalho é a fonte da solidariedade social, sua contínua distribuição, com a conseqüente, solidariedade social, torna-se a causa do crescimento e da evolução do organismo social. Com base nisso, pode-se dizer que a divisão do trabalho garantiria a coesão social, determinando as características fundamentais da constituição da sociedade.

Questão 2 – Por que, para Durkheim, ocorre a preponderância progressiva da solidariedade orgânica em relação a solidariedade mecânica?
    No início a solidariedade mecânica era a única, mas progressivamente perde espaço, tornando, a solidariedade orgânica, preponderante. Porém se a maneira dos homens serem solidários muda, a estrutura da sociedade não pode deixar de mudar.
    Numa organização, como a horda (massa totalmente homogênea), comporta apenas a solidariedade que deriva das similaridades, assim só abrangem elementos homogêneos, pois o tipo coletivo é muito desenvolvido. A solidariedade é mais fraca quanto mais heterogêneos forem os clãs. Este tipo de sociedade constitui o lugar típico da solidariedade mecânica. E onde a personalidade coletiva é a única, a propriedade só pode ser coletiva; ela só poderá ser individual quando o indivíduo tornar-se um ser pessoal e distinto, principalmente como elemento da vida social.
    Com a divisão do trabalho surge uma centralização e um poder absoluto, as relações não se diferenciam daquelas entre o proprietário e a coisa. A solidariedade permanece mecânica, a diferença é que ela não liga o indivíduo ao grupo, mas àquilo que é sua imagem. É um sistema de segmentos homogêneos e semelhantes entre si, caracterizando uma solidariedade mecânica.
    Onde a solidariedade orgânica é preponderante, a estrutura das sociedades não é formada de segmentos similares e homogêneos, mas sim por um sistema de órgãos diferentes, cada um tendo papel especial e formado de partes diferenciadas. Os elementos sociais não são da mesma natureza que na solidariedade mecânica, pois não estão dispostos da mesma forma. Um órgão central exerce a ação moderadora sobre o resto do organismo; desse órgão dependem os outros, assim como ele depende dos outros. Não tendo mais nada de temporal e humano, só existindo a diferença de grau entre ele e os outros órgãos. Esse tipo social só pode se desenvolver à medida que o outro desapareça. O meio natural necessário não é mais o meio onde nasceu, mas o meio profissional. Não é mais a consangüinidade do indivíduo e sim a função que ele desempenha. Não há divisão do trabalho que se possa adaptar à organização já existente, com isso, a antiga estrutura deve desaparecer.
    Por isso, com a divisão do trabalho, ocorre a preponderância progressiva da solidariedade orgânica em relação à solidariedade mecânica. 

Questão 3 – Como Durkheim definiu a divisão do trabalho anômica?
    Quando a divisão do trabalho não produz a solidariedade, é porque a relação dos órgãos não estão regulamentadas, estando, então, num estado de anomia. Pois as regras do método são para a ciência o que as regras do direito são para o comportamento. Porém um estado de anomia não é possível, sempre que os órgãos solidários estejam em contato prolongado, já que o corpo de regras é a forma definida que assumem as relações que se estabelecem entre as funções sociais. Uma vez que o trabalho esteja dividido e como as regras precisam umas das outras, tendem naturalmente a diminuir a distância que as separam.
    Conforme o mercado se amplia são instauradas algumas indústrias, que servem para transformar a relação entre patrões e operários. Assim o trabalho da máquina substitui o do homem, o da oficina substitui o da manufatura; o operário tem regras a seguir e fica o dia todo longe da família e do empregador. Essa nova vida industrial exige uma nova organização. Por isso a divisão do trabalho foi acusada de diminuir o indivíduo à condição de máquina. Assim se a moral tem com objeto o aperfeiçoamento do indivíduo, não pode deixar que ele se arruíne; e se tem por fim a sociedade, não pode deixar que se esgote a fonte de vida social.
    Contrariamente, a divisão do trabalho não produz esses fastos em virtude de uma imposição da natureza, mas apenas em circunstâncias excepcionais. A divisão do trabalho supõe que o trabalhador não perde de vista seus colaboradores, mas age sobre eles e sofre sua ação. Assim, não é uma máquina que repete movimentos dos quais não sabe a direção, ele sabe que eles tem um destino. O trabalhador sente e serve para alguma coisa, é um ser inteligente. Sendo, a divisão do trabalho, a fonte de solidariedade.

Questão 4 – Como caracterizar a solidariedade mecânica em contraste com a solidariedade orgânica?
      O que caracteriza a solidariedade mecânica é que ela é um sistema de segmentos homogêneos e semelhantes entre si, esta solidariedade corresponde ao direito repressivo cuja ruptura constitui o crime. Já a solidariedade orgânica, resulta da divisão do trabalho.
    A solidariedade mecânica pode ser simbolizada pelo direito penal, pois as características da pena derivam da natureza do crime, assim suas regras exprimem similaridades sociais. Neste caso de solidariedade, os membros do grupo se atraem por serem semelhantes e são ligados à sociedade que eles formam, não sendo atraídos apenas pelo outro, mas também à sua pátria. Contrariamente a sociedade se esforça para que os cidadãos apresentem as semelhanças, para assim ocorrer à coesão social.
    Existem nas pessoas duas consciências: uma contém os estados pessoais que nos caracterizam, representando e constituindo a personalidade individual, e a outra os estados que abrangem são comuns a toda sociedade, o que representa o tipo coletivo, sem o qual a sociedade não existiria; quando esta rege nossa conduta, levamos em conta os fins coletivos. Mesmo assim, essas duas consciências estão ligadas entre si formando uma só, havendo um único substrato orgânico para elas, portanto elas são solidárias, resultando a solidariedade mecânica. Ela não é somente uma ligação do indivíduo ao grupo, mas também constitui a harmonia entre eles.
    A parcela que a solidariedade mecânica tem na integração geral da sociedade depende da grande extensão da vida social abrangida e que regulamenta a consciência comum. A importância dessa solidariedade é medida pela parte do sistema jurídico que o direito penal representa.
    Ao contrário da solidariedade orgânica; enquanto a solidariedade mecânica implica a semelhança dos indivíduos, a solidariedade orgânica supõe que eles sejam diferentes. A primeira só é possível na medida em que a personalidade individual seja absorvida pela coletiva, e a segunda só é possível se cada um tiver uma personalidade individual. Na solidariedade orgânica a unidade do organismo é tanto maior quanto a individualização das partes seja maior.

Prova de Sociologia Clássica – ano 2002

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