sexta-feira, 10 de julho de 2009

“A Política dos outros – O cotidiano dos moradores da periferia e o que pensam do poder e dos poderosos” - Teresa Pires do Rio Caldeira

No texto a autora analisa as entrevistas de moradores da periferia, sobre o que eles pensam sobre a vida em sociedade, comentários sobre fatos variados, relatos de experiências, opiniões, etc. O que estas entrevistas demonstram não é uma novidade, mas demonstram a vida de um determinado grupo social, em um espaço delimitado de tempo, porém não coincidem com relatos do dia-a-dia, pois a entrevista conduz a uma reflexão, a um discurso organizado e a uma visão mais global do cotidiano. A autora, antes de iniciar a análise das entrevistas, explica como foram estruturadas estas análises, a flexibilidade da entrevista, os dados de observação participante, e por fim, aplica seus conhecimentos teóricos e empíricos a fim de construir sua interpretação a respeito. O objetivo das entrevistas era o de explorar representações sobre a sociedade em que viviam as pessoas entrevistadas, e a sua relação com o poder político.

Caldeira diz que ao olhar para sociedade percebe-se uma dicotomia básica: a oposição entre pobres e ricos. Outra característica apontada é o fator trabalho, que representa uma relação de dependência mútua, de poder e de exploração entre ricos e pobres. Outro fato observado, é que as valorações dadas ao ser rico ou ser pobre são móveis e variam de acordo com a situação. Há uma grande mobilidade das classificações e uma gradação no que se refere à pobreza e à riqueza, porém há a um elemento que é visto de forma intermediária: a classe média.

Através dos depoimentos, a autora percebeu que a maioria dos entrevistados acredita em uma mobilidade social. No que diz respeito às mulheres, a autora mostra que elas imaginam os mesmos mecanismos que os homens para ascender socialmente, no entanto vinculam sua própria ascensão a terceiros, em geral seus maridos e tem consciência dos limites salariais a que estão submetidas. Já os homens possuem projetos de ascensão pessoal e valoram negativamente o casamento classificando-o como uma imposição social.

Para finalizar, a idéia que os entrevistados tem em relação ao governo é de algo neutro, que encontra-se acima da sociedade, numa imagem próxima à de Deus. Conferem-lhe um poder ilimitado e que dele depende o bom funcionamento da sociedade. Não há o reconhecimento do Poder Legislativo. Assim, o governo acaba sendo a vontade de quem governa, de quem ocupa o lugar e é julgado como um aparato, mas como uma “pessoa” com sentimentos e vontades, cujas característica é a mesma identificada nos ricos pelos entrevistados: o egoísmo. Portanto o governo ideal deveria agir é como um pobre. A questão da mulher é novamente retomada no sentido da separação entre publico e privado.

Não é possível fechar a análise porque os fragmentos não formam um sistema. A nossa sociedade é fragmentada e os indivíduos têm múltiplos papéis, porém isso não quer dizer que haja ausência de correlação entre os elementos da fala, mas sim que as articulações entre eles são variáveis e nem sempre são lógicas. Mas isso não é uma falha, pois qualquer conexão apresenta repercussão na vida social da pessoas. Os elementos são compartilhados pela sociedade, mas as conexões são mutáveis. A falta de conexão se deve ao fato de que mudanças em um plano não são necessariamente transpostas aos outros. Se as partes do sistema fossem todas integradas não haveria mudanças parciais e os discursos teriam todos a mesma lógica.

Resenha – Pesquisa Qualitativa em CSo – ano 2003

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