sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Resenha: “Condição Pós-moderna” O fordismo (cap.. 8) - David Harvey

     No capítulo 8 (O fordismo) do livro “Condição pós-moderna”, David Harvey vai mostrar como se deu o fordismo, durante o período de expansão do pós-guerra, entre 1945 e 1973, que compreendia um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologia, hábitos de consumo e configurações de poder econômico (conjunto este, que pode ser chamado fordista-keynesiano). A hipótese explorada pelo autor é a de que os eventos recentes são uma transição no regime de acumulação e no modo de regulamentação social e política a ele associado, e para desenvolvê-la recorre à linguagem da “escola da regulamentação”, que nada mais é do que “uma materialização do regime de acumulação, que toma a forma de normas, hábitos, leis, redes de regulamentação, etc., que garantem a unidade do processo”.

     O fordismo teve início em 1914 quando Henry Ford introduziu o dia de oito horas de trabalho por cinco dólares, porém o reconhecimento do fordismo se deu mais tarde. Ford reconhecia que a produção em massa (já estabelecida por Taylor – taylorismo) significava consumo em massa, e também um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle de gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, e assim, uma nova sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. Esse pensamento era inovador e era o que distinguia o fordismo do taylorismo. Apesar disso, o fordismo demorou para se estabelecer como um regime adulto (já que, mesmo tendo passado duas décadas, ainda se falava no fordismo em seu estado inicial). Isso porque Ford acreditava que essa sociedade poderia ser construída apenas com aplicação do poder corporativo, para ele não era só disciplinar o trabalhador, mas com renda e tempo de lazer suficientes, fazer com que esse trabalhador consumisse os produtos produzidos em massa (produzidos em quantidades cada vez maior). Assim, Ford chegou a aumentar os salários de seus trabalhadores no início da Grande Depressão, para que eles consumissem mais, mas isso não deu certo e foi preciso demitir funcionários e cortar salários. Para resolver essa crise do capitalismo foi necessárias o New Deal, estabelecido por Roosevelt, e a intervenção do Estado.

     O estabelecimento do fordismo durou meio século, e dependeu de inúmeras decisões individuais, corporativas, institucionais e estatais, que na maioria das vezes eram escolhas políticas para combater a crise do capitalismo e a Grande Depressão. No período entre-guerras, houve dois impedimentos principais ao fordismo: primeiro, as relações de classe no mundo capitalista não era propícia à aceitação de um sistema de produção que tinha como base à familiarização do trabalhador com longas horas de trabalho rotinizado, que exigia poucas habilidades manuais, com baixo controle sobre o projeto, o ritmo e a organização do processo produtivo, pelo trabalhador. Para acabar com essa barreira, foi preciso uma revolução das relações de classes, fazendo com que o fordismo se encaixasse e disseminasse na Europa. Segundo, a maneira e os mecanismos de intervenção estatal usados, para que isso mudasse, chegando a uma nova forma de uso do poder estatal, foi necessário conceber um novo modo de regulamentação e o acontecimento da crise do capitalismo na década de 30. Esse problema de uso do poder do Estado só foi resolvido em 1945, levando tornando o fordismo um regime de acumulação maduro. Desse modo, o fordismo tornou-se a base do período de expansão pós-guerra, entre 1945 e 1973.

     Esse período de expansão foi caracterizado por altas e estáveis taxas de crescimento econômico em países capitalistas avançados, aumento nos padrões de vida, contenção das crises e das ameaças de guerras, e preservação da democracia de massa. O fordismo se aliou ao keynesianismo,e o capitalismo teve um surto de expansões internacionalistas, alcançando o mundo todo e atraindo inúmeras nações e também um grande desenvolvimento industrial. Todo esse crescimento só foi possível devido à construção de novos poderes institucionais e pelos novos papéis assumidos, ambos pelo Estado, ao ajuste do capital corporativo em relação à lucratividade segura, aos novos papéis assumidos pelo trabalho organizado, em relação ao desempenho no mercado de trabalho e nos processos de produção.

     Para garantir o crescimento e o aumento do padrão de vida, ao mesmo tempo em que mantinha-se a estabilidade para a realização de lucros, utilizava-se o grande poder corporativo. O Estado se esforçava para controlar os ciclos econômicos, combinando políticas fiscais e monetárias, à medida que a produção de massa necessitava de estabilidade nas condições de demanda para continuar sendo lucrativa, assim o Estado investia em setores públicos, que era imprescindível para o crescimento da população e do consumo e também para garantir o relativo pleno emprego. A maneira como ocorria o intervencionismo estatal variava muito entre um Estado e outro. É interessante perceber como, governos nacionais tão diferentes ideologicamente, combinavam o estado de bem-estar social, a administração econômica keynesiana e o controle de relações de salário, para garantir o crescimento econômico e o aumento do padrão de vida da população.

     O fordismo pode ser visto como um modo de vida total, ele é um modo de regulação que envolve a acumulação e um estado de bem-estar social, e não apenas um modo de produção em massa. O fordismo dependia muito da ampliação dos fluxos de comércio mundial e de investimento internacional. Esse internacionalismo trouxe uma nova cultura internacional, apoiando-se em novas capacidades de reunir, avaliar e distribuir informação, a abertura do comércio internacional representou a globalização de matérias-primas baratas. A expansão internacional do fordismo se deu numa “conjuntura particular de regulamentação político-econômica mundial e uma configuração geopolítica em que os Estados Unidos dominavam por meio de um sistema bem distinto de alianças militares e relações de poder” (p. 132).

     Como nem todos eram atingidos pelos benefícios do fordismo, ocorre um descontentamento e insatisfação, por parte dos excluídos, mesmo no apogeu do sistema, produzindo sérias tensões sociais e fortes movimentos sociais. Era o Estado que suportava o crescente descontentamento, que chegava a gerar desordens por parte dos excluídos. O poder do Estado era legitimado, cada vez mais, em decorrência da capacidade de expandir os benefícios do fordismo a todos e de garantir as assistências públicas devida (saúde, educação, habitação), era disso que dependia o contínuo crescimento da produtividade, sendo, somente assim, viável o Estado keynesiano de bem-estar social. Também havia descontentamento cultural devido ao consumo padronizado. Todo esse descontentamento une-se e forma um movimento político-cultural durante o apogeu do sistema. Os países de Terceiro Mundo também se encontravam insatisfeitos com o fordismo, que prometia uma modernização, mas o que ocorria era uma degradação da cultura em troca de míseros ganhos em padrão de vida. Mesmo assim, o fordismo se manteve até 1973, conseguindo manter o padrão de expansão.

Estrutura e Dinâmica da Sociedade Contemporânea - 2003

3 comentários:

Jamile Constança disse...

Olá, é uma pena seu blog estar parado a tanto tempo, eu o encontrei por acaso pois procurava uma resenha de base para fazer meu trabalho de industria.
Faço geografia, e a resenha foi otima para complementar o texto.

Beijos e foi um prazer.
qq coisa jamilegeo.rj@gmail.com

Alana Moraes disse...

seu blog me salvo
estava doida atrás do meu trabalho sobre fordismo e só fui achar um que prestassi aki.
adorei e vou vo,tar mais vezes
beijo

Anônimo disse...

sua resenha vai direto ao x da questão, e é perfeita.