terça-feira, 29 de julho de 2008

Comentário sobre duas frases de Francis Bacon

Frases:

“Nem a mão sem auxílio nem a compreensão deixada a si mesmo logram muito.”

“Não é pequena a diferença existente entre os ídolos da mente humana e as idéias da mente Divina, ou seja, entre opiniões fúteis e a verdadeira marca e impressão gravada (por Deus) nas criaturas, tais como se encontram na natureza.”

Existe um conflito entre o que é falso e o que é verdadeiro, as idéias da mente Divina, que estão gravadas nas criaturas (marcas de Deus na natureza), fazem parte da ordem da verdade, enquanto as idéias da mente humana, os “ídolos”, fazem parte da ordem falsa (opiniões fúteis), e esses ídolos são os obstáculos para o progresso científico, segundo Bacon. O homem pensa e faz, ele domina a natureza para depois fazer as leis.

Para fazer ciência é preciso entender e seguir as leis da natureza; para entender a ordem natural é preciso observar, quanto mais se observa mais se sabe, e somente obedecendo as leis da natureza é que se pode vencê-la, e assim conseguir poder, daí vem que ciência e poder do homem se coincidem, originando a famosa frase de Bacon: “Saber é Poder”.

Todas as idéias vem de noções que já se tem das coisas, as teorias científicas se baseiam nessas pré-noções que estão “contaminadas” de falsas idéias, porém a ciência não pode se formar por ideologias. A ciência não produz os meios para produzir os efeitos, a lógica (a nossa lógica não é científica) não é suficiente para a descoberta científica, ela é danosa, por causa dos ídolos que residem na mente humana. Para se entender aquilo que está mais oculto na natureza (compreender a verdade), é preciso de um método que abstraia as noções e os axiomas, para isso coloca-se duas vias: 1) para se chegar aos axiomas parte-se dos sentidos e dos fatos (lógica) e 2) construir os axiomas por meio dos sentidos e dos fatos (empiria), esse último é o mais indicado para alcançar a verdade, desse modo pode-se dizer que a ciência é extremamente empírica.

Para que o conhecimento supere o que está oculto na natureza é preciso de orientação nos experimentos, porém não se deve apenas observar as coisas, mas também conhecer os seus sentimentos, isso porque a verdadeira ciência interpreta a natureza e não a antecipa; com a antecipação não haveria questionamento por parte dos homens, isso porque a natureza humana tende a reduzir o complexo ao mais simples, implicando à uma visão restrita ao que é favorável, as idéias antecipadas seriam mais aceitas por parecerem mais fáceis que a interpretação, e os homens se acomodariam com isso. Para saber algo verdadeiro à respeito da natureza é preciso pesquisar experimentalmente, esse método de experimentação é uma crítica ao racionalismo.

Para a compreensão da verdade os homens devem abandonar suas noções (ídolos) afim de conhecer as coisas como realmente são, pois os ídolos e as noções falsas formam uma barreira na mente humana, principalmente para a “entrada” de novos conhecimentos. É preciso quebrar essa barreira para se alcançar o conhecimento verdadeiro, e para que isso ocorra a solução é a formação de noções e axiomas por indução (método indutivo).

Esse método indutivo consiste em observar e entender os fatos concretos, como se dão na experiência, e transformá-los em formas gerais (leis e causas), isto é, o que se percebe como verdade é estendido à todos os outros fatos, inclusive àqueles que não foram totalmente pesquisados. Aqui acha-se uma oposição ao método indutivo de Aristóteles, este colocava que a indução consistia em, dado um conjunto de fatos, ou coisas particulares, deveria extrair o que existe de geral em cada um deles.

Bacon, apesar de reconhecer a existência do conhecimento a priori, argumentou que, na verdade, o único conhecimento que valia a pena ter é o conhecimento de base empírica do mundo natural, o qual devia ser buscado através de procedimentos sistemáticos, mecânicos, do arranjo das informações colhidas na experiência e observação, que podiam ser melhor conduzidas em pesquisa cooperativa e impessoal. Propondo a observação isenta dos preconceitos, afastando os ídolos, coletando dados e interpretando-os cuidadosamente, conduzindo experimentos para, com todo esse método, aprender o que estava oculto na natureza e sistematizar o que nela parece desordenado e irregular, isso significava romper com o aristotelismo e entrar para o progresso científico, abrindo caminho ao progresso científico.

BIBLIOGRAFIA

  • Bacon – Coleção “Os Pensadores”; trad. José Aluysio de Andrade. Editora Nova Cultural, São Paulo, 1999.
  • Seymour-Smith, Martin. “Os 100 livros que mais influenciara a humanidade: a história do pensamento dos tempos antigos à atualidade”; tradução: Fausto Wolf. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002, coleção 100, 1ª edição.
  • Texto: Os Ídolos (aforismos I ao XLVII) - tradução

 

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