sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Antropologia

Considerada de maneira ampla como o estudo científico do homem, definição esta que destaca inúmeros problemas que ilustram tanto a diversidade da antropologia hoje como seus aspectos unificadores. Um primeiro problema é que, se a antropologia como disciplina originou-se na revolução darwiniana, do século XIX, e teve como interesse a teoria evolucionista, seu desenvolvimento posterior foi uma reação à essas idéias evolucionistas e “progressionistas” sobre a sociedade e comportamentos humanos. A divisão da antropologia em dois ramos, social e biológico, evidencia essa rejeição. Outro problema encontra-se no surgimento da crítica feminista tornando mais cuidadosos o uso da palavra “homem” para designar a espécie humana como um todo. Essa fragmentação em elementos sociais e biológicos ainda é questionável, devido a coerência do próprio nome antropologia.

A antropologia se caracteriza por uma ênfase nas abordagens comparativas, nas variações mais do que nas normas do comportamento das sociedades, e numa rejeição das sociedades ou populações ocidentais como modelo para a humanidade. Os antropólogos sociais se concentravam nas sociedades não-ocidentais. O que sempre se considerou é que a experiência social humana é bem mais encarada como uma série de variações, cada qual com sua própria lógica cultural, e em particular que a sociedade ocidental não representa um padrão comportamental pelo qual essas outras culturas devem ser avaliadas.

Os antropólogos biológicos utilizam princípios e métodos biológicos para fornecer outro quadro comparativo. Este pode ser explicitamente evolucionista, comparando os seres humanos com outros primatas, ou pode ser um exame da extensão e natureza da variação biológica do homem hoje.

Na base de todos os ramos da antropologia existe a preocupação com o mapeamento da criação humana.

Sociedades primitivas: a descoberta pelos europeus da enorme variação nas sociedades humanas ocorreu basicamente no período de 1500 a 1900, acarretando necessidade de compreender como e porque essa diversidade ocorreu. A adoção de perspectivas evolucionistas durante o século XIX forneceu a base coerente para tal perspectiva. A evolução foi encarada como uma progressiva escala de mudanças natural, como estágios numa escala de progresso, que vai do primitivo ao avançado (tendo no patamar mais elevado a sociedade européia, ou industrial).

Apesar dessa idéia evolucionista ser a base para a antropologia moderna, o século XX foi marcado pela rejeição deste ponto de vista. Era necessário explicar os grandes impérios, e partiu-se para a interação entre observação e sociedade, desenvolvendo-se a observação participante, levando a rejeição das idéias de progresso das sociedades humanas. A experiência nas sociedades não-européias levou a percepção de que elas não eram tão simples e não podiam ser encaradas como estágios primitivos de sociedade. Ao substituir os conceitos evolucionistas por conceitos funcionais, ficou claro que as sociedades não-européias não eram tentativas primitivas de organização econômica e estrutura social, mas funcionavam bem como sistemas integrados em formações ambientais particulares.

Assim, abandona-se a idéia de hierarquias evolucionistas das sociedades humanas, dando-se maior importância às tradições culturais independentes e às estratégias sociais alternativas.

Cultura: conceito crucial da antropologia. Em um nível, refere-se às características de comportamentos que são exclusivas dos seres humanos em relação à outras espécies. Também traz consigo a noção de comportamento ensinado em vez de instintivo. O desenvolvimento da etnologia deixou claro que essa dicotomia aprendizado/instinto no comportamento animal não é válida e que outras espécies partilham de características que antes se achava particularmente humanas. Um outro nível, é o da capacidade humana de gerar comportamento. Em outro nível, encontra-se o ponto de vista de que tal comportamento está profundamente enraizados nas relações sociais e em outras características da sociedade. E finalmente o resultado de todos esses processos é o fenômeno das culturas humanas.

A cultura não é só um acumulo de tradições sociais. Ela está tão profundamente entrelaçada com todo o sistema cognitivo que a visão de mundo, em cada indivíduo, é construída pela experiência cultural e a ela está sujeita.

Relativismo cultural: desenvolveu-se na antropologia social como um meio de enfatizar tanto a dificuldade de se fazer comparações entre culturas quanto a ausência de quaisquer critérios independentes para se formar juízos sobre os méritos relativos de diferentes tradições sociais. Em seu ponto mais extremo, o relativismo cultural adota o ponto de vista de que uma cultura só pode ser considerada dentro do contexto de suas próprias tradições e lógicas culturais.

A unidade da espécie humana: as abordagens biológicas da antropologia abriram caminho para a visão, predominante neste século, de que a humanidade é unificada, unida por uma herança biológica, imensamente maior do que qualquer uma das diferenças. A aceitação da unidade da espécie humana é hoje um consenso fundamental, formando a base de muitas idéias que vão além do estritamente biológico.

A diversidade humana: do mesmo modo que os antropólogos sociais se concentraram na diversidade das formas culturais humanas, os antropólogos biológicos também se voltaram para a diversidade biológica. A diversidade de aparência dos seres humanos, particularmente em aspectos como cor de pele e a forma do rosto, deram créditos ao ponto de vista de que as populações humanas podiam ser divididas em unidades distintas, representando exemplares geográficos isolados ou estágios de evolução, e se tornaram a base da análise da variação humana em termos de raça.

Durante a maior parte do século XIX e início do século XX, raça foi o conceito central no estudo da diversidade biológica humana. As raças forneceram uma categorização do ser humano tanto na horizontal (ou seja, geográfica) quanto vertical (ou seja, através do tempo). O conceito de raça foi usado também como explicação para as diferenças em termos de padrões de desenvolvimento. Na antropologia recente, raça foi completamente rejeitada como noção biológica e analítica de alguma utilidade. Trabalhos recentes de antropologia biológica mostram que raça não é um conceito biológico útil.

A evolução humana: a contribuição da antropologia às idéias deste século retorna a sua preocupação com a evolução humana, mas com outra ênfase. A evolução não mostra uma escalada de progresso, mas uma fonte de diversidade; ao invés de fazer com que os humanos remontem cada vez mais no tempo, ela enfatiza cada vez quanto a espécie humana é jovem e assim, a unidade das populações humanas.

A antropologia moderna: entre os antropólogos sociais, houve maior concentração nos laços entre processos culturais e processos econômicos, políticos e sociológicos, conduzindo a uma crescente ênfase nos aspectos culturais da cognição. Além disso, as mudanças marcantes nas sociedades tradicionais estudadas pelos antropólogos levaram-nos a se envolver de forma cada vez mais profunda com os problemas di desenvolvimento e da sobrevivência, dessas mesmas sociedades. Da mesma forma, os antropólogos biológicos vêm trabalhando cada vez mais com os problemas de doença e nutrição do Terceiro Mundo, e fornecendo especialmente uma compreensão maior dos aspectos populacionais que revestem os problemas ecológicos com os quais se defrontam vastos setores da população humana.

Dicionário do Pensamento Social do século XX – “Antropologia” – pag. 22 - 27

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