sexta-feira, 11 de abril de 2008

Malinowski - Baloma: os espíritos dos mortos nas ilhas Trobriand (caps.: V, VI, VII, VIII)

Na vida tribal dos Kiriwinianos a magia possui uma função primordial, pois as atividades econômicas, a horticultura, a pequena caça, a pesca, a construção de canoas e as condições atmosféricas estão envoltas de magia.

A magia encontra-se muito difundida entre os nativos e um exemplo dessa “natureza geral” da magia está na magia da horta que é realizada pelo towosi (mago da horta) e consiste numa série de ritos complexos e elaborados cada qual acompanhado de uma fórmula. Todos os ritos constituem uma estrutura onde se insere o trabalho hortícola.

O towosi tem uma importância muito grande na gestão da horta e o respeito que obtém pelos seus conselhos é meramente formal, havendo assim um reconhecimento de sua autoridade por parte de todos.

A questão do tabu, varia de acordo com o sistema de magia da horta de cada aldeia.

As magias possuem virtudes que são suas fórmulas, sendo o lançamento destas a única razão de ser do rito, assim como o mecanismo correto de transmissão, em que verifica-se a presença dos baloma na magia.

Essa transmissão pode ser por tradição ou por invocação, ou seja, pelo apelo direto aos baloma ou pelo valor tradicional dos nomes ancestrais.

Há a transmissão das fórmulas pelo parentesco, pois há duas categorias de magia: a matrilinear, associada a uma localidade (magia local) e a patrilinear, transmitida de um lugar para outro (magia não local).

O baloma, no mundo inferior, pertence ao mesmo sub clã que o homem antes de morrer e a reencarnação dá-se igualmente dentro das fronteiras do sub clã.

Há entre os nativos dois fatos psicológicos importantes que é a crença na reencarnação e o desconhecimento das causas fisiológicas da gravidez, pois acreditam que a verdadeira causa da gravidez é sempre um baloma que é introduzido no corpo da mulher.

Há também na aldeia a associação de concepção e banho, em que recebe-se o waiwaia (espírito do bebê) dentro da água.

No entanto, a crença na reencarnação, embora seja universal e popular, não desempenha um papel importante na vida social.

Verifica-se que há a coexistência de duas crenças contraditórios entre si em relação a fecundação, pois não conhecem os fatores fisiológicos da fecundação.

Possuem, assim, uma vaga noção de relação entre sexo e gravidez e não fazem a menor idéia de que existe a questão da paternidade do filho, sendo assim, ignoram completamente a questão da embriologia.

O único termo genérico utilizado para designar parentesco é a veiola que significa parentesco na linha materna e não abrange a relação entre pai e seus filhos.

Os nativos possuem conhecimento sobre a fecundação dos animais e não a associa com a fecundação humana, pois desconsideram a questão da reencarnação e da formação de uma nova vida.

No entanto, acreditam na possibilidade de as mulheres engravidarem sem relações sexuais, pois pode-se dilatar a vulva com manipulação digital.

Sendo assim, o problema do desconhecimento da fecundação não se relaciona com a psicologia da crença, mas com a do conhecimento baseado na observação.

Sabe-se então que a vida sexual para Kiriwinianos é um estado normal e as relações sexuais são uma ocorrência quase tão comum como comer, beber ou dormir.

As leis sociológicas gerais têm de ser perspectivadas e enquadradas no local de estudo. É preciso ordenar, classificar e interpretar os dados colhidos no local e reportar-se ao todo orgânico da vida social nativa.

As leis para recolhimento de dados são:

  • separar fatos puros de especulações hipotéticas e classificar;
  • ordenar e estabelecer relações mútuas.

Outra noção importante é perceber que cada crença reflete-se nas instituições sociais e no comportamento do nativo.

Sendo assim, há regras para reduzir a crença a um dado:

  • formular perguntas;
  • procurar nos costumes

Há também a definição de idéia social ou dogma da crença: “É um princípio da crença personificado em instituições ou textos tradicionais e formulados pela opinião unânime de todos os informadores competentes”.

Concluí-se verificando que há fatores invariáveis da crença como: tradição e instituições assim como há os fatores variáveis da crença: atitude emocional e opiniões pessoais.

Comentário de seminário, Antropologia Clássica, ano de 2002:

Malinowski, B. – Magia, Ciência e Religião; Lisboa, edições 70, 1984 - (caps.: V, VI, VII, VIII)

3 comentários:

Filipe Pinto disse...

Bravo!
- Peça de excelente qualidade com riqueza de pormenor e escrita fluente, com leveza. Muito bom e muitíssimo útil.

Obrigado, Carina!

Lúcio Flávio Barbosa disse...

Parabéns Carina, repito as palavras do amigo acima.Malinowski é um de meus antropólogos favoritos, o método que ele utiliza em suas pesquisas de campo, o quadro sinóptico, e a clareza com que ele descreve as sociedades as quais estuda são perfeitos...

Lúcio Flávio Barbosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.